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terça-feira, 8 de março de 2011

A escola dos últimos 25 anos

Desde o lançamento de NOVA ESCOLA, as mudanças em nossa Educação se confundem com as transformações na vida do povo brasileiro.

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A revista NOVA ESCOLA completa 25 anos e me faz lembrar o tempo vivido, desde quando passei da pesquisa científica para meu envolvimento com Educação, em um movimento pela democratização social e econômica do país. O que foi possível alcançar desde então, com o trabalho de muitos que NOVA ESCOLA acompanhou e apoiou, justifica o esforço, mas, por ser tanto o que falta, é preciso - mais do que festejar - rever o percurso feito e preparar o próximo.

No plano legal, a Constituição de 1988 foi um marco para a Educação como direito, incorporada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, apoiada por Diretrizes e Parâmetros em 1998 e por um novo sistema de avaliação. Ter participado desses momentos reforça em mim o sentido de responsabilidade, afinal o tempo da memória é também o da autocrítica: o que faríamos diferente se fosse hoje?

Universalizar o Ensino Fundamental foi um avanço indiscutível, pois a escolarização básica cresceu em taxas bem maiores do que a da população: há 25 anos, a maioria dos professores de hoje ainda estava na escola, como aluno. Há não muito tempo, em certas regiões, muitas professoras recebiam bem menos que o salário mínimo. Hoje ganham o piso nacional (apesar de alguns estados não cumprirem a determinação), mas sua remuneração, formação e carreira continuam incompatíveis com os discursos sobre a importância da Educação.

Quem viveu esse período acompanhou grandes transformações, mas também viu problemas persistirem. No tratamento de dívidas sociais, que hoje chamamos "política de inclusão", grupos étnicos ameaçados ou segregados, pessoas com deficiência, jovens em condição de risco e analfabetos foram incluídos no ideário educacional - e de forma mais republicana, diferente da velha benemerência para com os desfavorecidos. Isso é essencial, mas ainda há muito por fazer, somado ao enorme saldo devedor dos que deixaram a escola sem aprender: 14,1 milhões de analfabetos e outros 38 milhões de analfabetos funcionais. Teremos de enriquecer para poder pagar tais dívidas? Isso nos leva ao último ponto que gostaria de destacar: a relação entre Educação, desenvolvimento econômico-social e modernização.

Fiquemos, por ora, com a modernização: há pouco mais de 15 anos não havia internet e este texto, datilografado, chegaria à redação em cerca de dois dias, pelo correio. Há mais de dez, NOVA ESCOLA publica reportagens em seu site e hoje este texto, anexo a um e-mail, chega à redação em fração de segundo. No entanto, temos dezenas de milhares de escolas sem um único computador e outras tantas sem acesso à rede. Nosso problema com a modernização é mais profundo, pois tem a ver com a inconclusa melhora de qualidade na ampliação numérica da escola. Há um quarto de século, por exemplo, batalho pelo ensino de Ciências mais significativo e baseado na ação de quem aprende. Vejo livros e currículos se modificarem, mas persiste o baixo desempenho nas avaliações.

A revisão desse percurso por completar já revela desafios para o país incorporar-se à dinâmica global, não se restringindo a exportar matérias-primas, degradar recursos naturais e segregar sua base social. Essa dinâmica é um turbilhão que só poupará nações que se renovarem, tendo a cultura de seu povo como seu recurso e sua finalidade. No aniversário da revista, lembremos Anísio Teixeira (1900-1971), com a atualidade de duas de suas frases: "Para a nova escola, estudo é o esforço para resolver um problema ou executar um projeto e ensinar é guiar o aluno na sua atividade e dar-lhe os recursos que a experiência humana já obteve..." e ainda "Temos que construir a nossa escola não como preparação para um futuro conhecido, mas para um futuro rigorosamente imprevisível".

Fonte: Revista Escola

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