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terça-feira, 29 de março de 2011

‘Orgulho nerd’ vira lucro nas mãos de empreendedores

Nerds assumidos, Alexandre Ottoni e Deive Pazos conquistaram uma legião de fãs e encontraram no seu hobby um caminho para empreender.

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“Lambda, lambda, lambda, nerds!”. É com esta peculiar saudação que o “Jovem Nerd”, apresentador de um dos podcasts mais populares da internet brasileira, saúda seus ouvintes a cada edição do programa.
O Nerdcast, programa em áudio que trata de temas diversos – de eventos históricos a filmes de super-heróis e histórias em quadrinhos, passando por esportes, novelas e até dicas de relacionamento – conquistou uma legião de fieis fãs.

São mais de 100 mil ouvintes, marca impressionante para um programa que circula apenas na internet e que nunca teve qualquer tipo de divulgação além do boca a boca.

Grande parte do sucesso do programa se deve ao carisma da dupla principal de apresentadores, Alexandre Ottoni – o “Jovem Nerd” – e Deive Pazos – também conhecido como “Azaghâl” –, e de seu selecionado time de convidados (em sua maioria, amigos de longa data), que conseguem tratar dos temas mais banais aos mais complexos com bom-humor, dinamismo e trazendo sempre o olhar curioso para o assunto.

Assumidamente “nerds”, Ottoni e Pazos conquistaram os “corações e mentes” de um público que até não tinha nenhum veículo que os representasse tão abertamente.

A fórmula deu tão certo que, embora possa ser baixado gratuitamente, o Nerdcast já foi parar até em barraquinhas de camelôs pelo Brasil afora.

Mas não é só o “mercado paralelo” que enxergou a oportunidade de lucrar com o público nerd. Os próprios criadores do podcast, que começaram tudo como uma brincadeira entre amigos, decidiram transformar o projeto de lazer em negócio.

O site nasceu em 2002 como um blog de humor tratando de temas relacionados ao universo nerd, mas não restrito a ele. Na época, Ottoni e Pazos mantinham empregos regulares – o primeiro como designer e o segundo como administrador –, e dedicavam apenas as horas vagas ao projeto.

Em 2005, o site atraiu a atenção de um grande portal de internet, o iG, que acabou propondo uma parceria aos seus criadores. Além de suporte técnico e espaço de armazenamento para hospedagem do site, o portal ofereceu à dupla visibilidade na sua homepage e a possibilidade de compartilhamento de receitas de publicidade.

“Foi um ponto de virada. Passamos a acreditar que o Jovem Nerd poderia virar um negócio de fato”, conta Ottoni. Mas as coisas não aconteceram tão rápido quanto os empreendedores gostariam.

“Ná época, chegamos a faturar mil dólares com Adsense [programa de publicidade do Google] em um mês, mas era uma receita que não se mantinha sempre no mesmo patamar nem crescia muito além disso”, relembra Pazos.

Foi em 2006, com a estréia do Nerdcast, que a dupla finalmente encontrou sua “mina de ouro”. O programa começou despretensioso, assim como o próprio blog, e até um pouco “desengonçado” (na definição dos próprios criadores), mas logo encontrou um formato vencedor e conquistou uma audiência cativa.

Em pouco tempo, disputava prêmios nacionais e até internacionais, acumulando títulos – entre eles o de “melhor podcast do mundo”. Era hora de começar a ganhar dinheiro de verdade com o negócio.
“A demanda por produtos do site, como uma camiseta que tivesse o nosso mascote, o ‘nerdinho’, veio dos próprios ouvintes”, conta Pazos. “Podíamos ter feito algo simples para colocar no MercadoLivre e pronto, mas queríamos fazer bem feito”, ele relembra.

Depois de muita pesquisa, negociações com fornecedores e parcerias com operadores de meios de pagamento, nascia a Nerdstore. Com três modelos de camiseta e variados itens de colecionador, a loja virtual mostrou seu potencial logo de cara.

“Fizemos um podcast promovendo o livro A Batalha do Apocalipse, escrito pelo nosso amigo Eduardo Spohr. Ele tinha 70 cópias que ganhou como prêmio em um concurso literário, que colocamos à venda na loja. Em menos de 4 horas, vendemos tudo”, conta Pazos.

A experiência deu tão certo que a dupla decidiu produzir um novo lote de 500 cópias. Resultado: todas foram vendidas em menos de duas semanas. A terceira tiragem, de 4 mil cópias, se esgotou em menos de 2 meses. Como resultado, Spohr acabou sendo “descoberto” pela editora Record, que lançou o livro pelo selo Verus.

A loja, que estreou com um estoque de pouco mais de 200 camisetas, hoje chega a fazer encomendas de 8 mil peças em um único mês em datas especiais, como o Natal.

Se no início, os grandes hits eram os modelos que estampavam o orgulho nerd – como a “nerd power”, que trazia uma mão gigante fazendo uma saudação vulcana (se você não é nerd, clique aqui para entender a referência) –, hoje a estratégia é diversificar os produtos para atingir um público mais amplo. “Percebemos que tínhamos que variar nossas ofertas. Hoje temos camisetas com temas relacionados a filmes e seriados, por exemplo”, explica Ottoni.

Mas a Nerdstore é só metade da história de sucesso do Jovem Nerd. O público altamente segmentado e fiel do Nerdcast chamou a atenção de agências de publicidade digital, que viram no programa uma oportunidade de acertar em cheio o público alvo de suas ações.

Grandes marcas como HSBC, Coca-Cola e Sony Pictures e já fizeram ações especialmente voltadas ao público do site. Mas por que nome de peso como estes se interessariam em um público tão específico e restrito?

O segredo está na relação de confiança e fidelidade estabelecida entre o site e seu público.Da mesma forma que consomem os produtos vendidos na Nerdstore com avidez (80% dos clientes que efetuam uma compra voltam a comprar no site outras vezes), os ouvintes do Nerdcast estão sempre dispostos a experimentar aquilo que é recomendado pelos seus ídolos.

“Eles sabem que somos muito rigorosos ao selecionar os nossos patrocinadores. Não anunciamos nenhum produto de qualidade duvidosa. A gente sempre faz questão de testar tudo e muitas vezes já recusamos propostas de anúncio porque o produto não era legal”, explica Pazos.
Outro atrativo importante é o perfil do público que escuta o programa. “É um público geek, heavy user de tecnologia, classe AB. Ele está sempre interessado em testar novas coisas, é curioso, está sempre à frente de tendências e está nas redes sociais formando opiniões”, descreve Vinicius Zimmer, da agência Mídia Digital, que já fez várias ações junto ao site.
“Quem é que você procura quando vai comprar um novo celular ou computador? É sempre o seu amigo mais geek. Este público propaga a informação de maneira muito rápida e eficiente”, destaca Rogério Bonfim, sócio-diretor da VirtualNet, que também realiza campanhas usando o Jovem Nerd como mídia.

Um exemplo do sucesso obtido nas ações realizadas em parceria com o site foi um ARG (alternate reality game, espécie de jogo que combina elementos da vida real com desafios fictícios) para promover o filme Anjos e Demônios, que atraiu mais de 100 mil participantes. Em uma das fases do jogo, realizada em um shopping center de São Paulo, mais de 2 mil pessoas se mobilizaram ao local para procurar por pistas para decifrar um enigma.

As duas agências descobriram nos criadores do site não só parceiros de divulgação, mas também consultores para desenvolver o tipo de conteúdo que agrada o seu público. O ARG citado acima é um exemplo – Ottoni e Pazos foram os responsáveis por desenvolver toda estratégia por trás do jogo. “Eles conhecem esse público melhor que ninguém”, destaca Bonfim.

Atuando em todas essas frentes, o Jovem Nerd há muito deixou de ser um hobby. Já conta com a dedicação integral dos dois fundadores, que abandonaram seus empregos, e estão cada vez mais empenhados em profissionalizar e expandir o negócio.

Como parte deste projeto, pretendem reestruturar o site neste ano, transformando-o em uma rede social para nerds. Outra ideia que está no forno é Nerdbooks, editora que vai lançar títulos voltados ao público nerd. Se depender da devoção dos fãs da dupla, o sucesso já está garantido.

Fonte: EXAME

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