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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Como buscar os melhores

Painel de especialistas organizado pela Fundação Victor Civita aponta oito caminhos para atrair bons candidatos para a sala de aula


Para apontar saídas para a crise de atratividade da carreira docente, a Fundação Victor Civita (FVC) e a Fundação Carlos Chagas (FCC) reuniram, em novembro do ano passado, 17 especialistas de diversas áreas da Educação. O resultado foi um rico conjunto de ideias, reunidos em oito proposições práticas para que seja possível selecionar - e manter na sala de aula - os melhores candidatos do Ensino Médio.

1. Oferecer salários iniciais mais altos
Em comparação com outras profissões que exigem curso superior, a docência ainda ostenta as piores médias salariais (veja gráfico abaixo). A conta é simples: como ocorre em qualquer outra ocupação, se a remuneração não compensa, os melhores candidatos podem se afastar. "Aumentar os salários é uma medida que pode fazer efeito a longo prazo, pois atrairá os melhores alunos do Ensino Médio para a carreira", recomenda o economista Naércio Menezes Filho, da Universidade de São Paulo (USP). A dificuldade mais evidente é que a recuperação salarial de toda a categoria exigiria um alto investimento do governo. Também seria preciso aprofundar a opção pela Educação Básica, pois hoje o Ensino Superior recebe proporcionalmente muito mais recursos - cada aluno de Universidade custa, em média, seis vezes mais do que um aluno de 1ª a 4ª série.

Ainda é pouco
Na comparação salarial com outras profissões de formação superior, a docência segue perdendo

Ainda é pouco
* Entre os profissionais da Educação Básica. Fonte: Pesquisa Professores do Brasil: Impasses e Desafios, com base em dados da Pnad 2006.

2. Propor bons planos de carreira
Em geral, as carreiras docentes no Brasil têm uma progressão muito burocrática, com promoções baseadas quase exclusivamente no tempo de serviço. União, Estados e municípios precisam criar caminhos para o docente evoluir sem ter de sair da sala de aula e virar coordenador, diretor ou formador, como ocorre hoje.

3. Melhorar as condições de trabalho
A falta de condições diz respeito tanto à estrutura material da escola quanto à dinâmica no ambiente escolar, onde a violência é um dos problemas mais graves (veja o gráfico na página seguinte). Um local de trabalho agradável motiva os docentes a seguir ensinando. A solução passa por investimentos na recuperação e melhoria da infraestrutura e na preparação adequada de gestores e professores para se aproximar da comunidade, garantindo que todos aprendam e respeitem o papel social da escola e seu espaço.


Ambiente ruim
Percepção de violência afugenta professores em potencial

Ambiente ruim

* Entre 1.768 professores e funcionários de escolas de Belém, Distrito Federal, Porto Alegre, Salvador e São Paulo. Fonte: pesquisa Cotidiano das Escolas: Entre Violências (Unesco, 2006)


4. Focar a formação em serviço nas dificuldades em sala
Apesar de o Brasil investir muito em formação continuada, falta considerar o que o corpo docente de cada instituição deve aprender. "Muitas vezes, não se sabe quem é o professor, qual sua formação e o que ele precisa para melhorar sua prática", diz Maria Auxiliadora Rezende, ex-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). Uma alternativa é planejar atuações dentro da escola e não só em cursos externos. Nesse aspecto, os coordenadores pedagógicos têm um papel central: são eles que identificam os desafios e planejam a formação.

5. Oferecer uma boa experiência escolar
Se o estudante consegue aprender e tem uma boa relação com professores e colegas, tende a pensar mais na possibilidade de escolher a docência. "Precisamos de bons exemplos sobretudo na rede pública, pois é de lá que atualmente vem a maioria dos professores", avalia Marli Eliza de André, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

6. Melhorar a formação inicial
Muitos docentes abandonam a carreira pela frustração de não ajudar os alunos a aprender. As deficiências de formação, que começam na Educação Básica, se aprofundam nas Licenciaturas e nos cursos de Pedagogia - segundo pesquisa FVC/FCC de 2008, apenas 28% das disciplinas da grade curricular se destinam à formação profissional específica. A mudança passa pela transformação dos currículos das graduações de Educação, com mais espaço para as didáticas específicas.

7. Resgatar o valor do professor na sociedade
Por mais evidentes que sejam os problemas relacionados à docência, é necessário tentar equilibrar a cobertura midiática sobre a precariedade do ensino com iniciativas positivas para não desmotivar os futuros candidatos. Pouco adianta enfatizar problemas sem demonstrar possíveis saídas para sua solução. Uma alternativa é ampliar a divulgação dos prêmios existentes, disseminando iniciativas que merecem reconhecimento e podem ser adotadas como modelo.

8. Tratar o professor como profissional
A ideia é desmontar a noção de que a docência exige um dom e um sacrifício próximos do sacerdócio - trata-se de uma impressão disseminada entre os jovens, como mostra a sondagem da FVC/FCC. Não bastam atenção, paciência e boa vontade. É preciso reforçar o saber específico que o profissional possui: o conhecimento didático e o controle das ferramentas pedagógicas, algo que se constrói não apenas na graduação, mas ao longo de toda a trajetória profissional.

Fonte: revistaescola

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