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sexta-feira, 9 de março de 2012

O Facebook da Totvs

A maior companhia brasileira de software lança rede social para conectar a base de clientes e resistir ao avanço da SAP e da Oracle.

Diz a lenda que o objetivo de Mark Zuckerberg ao criar o Facebook, hoje a maior rede social do planeta, era ganhar popularidade entre as mulheres que frequentavam o campus da Universidade Harvard. Quase sete anos depois de colocar sua ideia em prática, Zuckerberg conseguiu não somente fazer sucesso com o público feminino, mas também mostrar ao mundo a força da conectividade e do compartilhamento entre as pessoas. Hoje, o Facebook se tornou a principal plataforma de comunicação na internet. É uma empresa avaliada em cerca de US$ 100 bilhões, com faturamento próximo a US$ 4 bilhões e crescimento anual de mais de 180%. É nessa força das redes sociais, mas aplicada ao ambiente corporativo, que a maior empresa de software brasileira, a Totvs, foi buscar inspiração para sua nova estratégia de mercado.

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A companhia controlada pelo empresário Laércio Cosentino lança neste ano uma rede social para conectar as 26 mil empresas que atualmente utilizam seus produtos. Diferentemente de Zuckerberg, a intenção de Cosentino, no entanto, não é conquistar o público feminino, mas sim criar um ambiente virtual no qual as empresas possam fazer negócios e trocar informações com segurança. E não é só isso. Líder absoluta no setor de pequenas e médias empresas no Brasil, a Totvs busca reunir sua base de clientes em uma mesma plataforma para conter o avanço de rivais como a alemã SAP e as americanas Oracle e Infor, cada vez mais interessadas nesse filão, que foi responsável, no ano passado, por 59% das receitas com a venda de softwares empresariais no País.

E não é necessário ser um cientista atômico para entender por que as pequenas e médias companhias brasileiras atraem tanta atenção das gigantes de software empresarial. Segundo dados da consultoria IDC, especializada em tecnologia, no ano passado esse segmento cresceu cerca de 30%. Ao mesmo tempo, o mercado formado pelas companhias de grande porte avançou apenas 6%. Além disso, estima-se que o porcentual de empresas com softwares de gestão instalados no País não passe de 20%. Ou seja, existe um grande filão a ser explorado. A Totvs, resultado da fusão de várias desenvolvedoras de sistemas nacionais, como a RM Sistemas e a Datasul, sempre nadou de braçada entre as pequenas. Sua participação nessa área hoje é de 73%.
Estrangeiras como a SAP por muito tempo ficaram concentradas nas grandes companhias, principalmente as multinacionais. O jogo, no entanto, está ficando mais complicado para a brasileira. “A SAP vem fazendo um bom trabalho entre as pequenas e médias”, afirma Fernando Lima, analista do IDC. Para fazer frente aos leões da tecnologia mundial, Cosentino se apoia justamente no principal trunfo da Totvs, sua base de usuários espalhada pelo Brasil. “Diariamente, mais de 1,8 milhão de pessoas acessam os nossos sistemas”, afirma o empresário. Conectar essa multidão de profissionais entre si é o que vai garantir à Totvs, segundo seu fundador, a preservação dos clientes atuais e a conquista de uma parcela das empresas que ainda não investiram em um sistema de gestão.

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“O diferencial da nossa rede social é que todos os participantes são identificados”, afirma Cosentino. “Não há, como na internet, a possibilidade de ficar anônimo, e isso traz segurança.” O sistema estará disponível para todos os clientes que instalarem a nova versão do sistema de gestão da Totvs, que deve chegar ao mercado ainda no primeiro semestre. Será possível optar por manter a rede social apenas para funcionários, sem comunicação com outras companhias, ou entrar num ambiente de colaboração externo. Além de fazer negócios, a comunicação com outras empresas também facilitará a obtenção de informações sobre o uso dos softwares, uma vez que usuários poderão compartilhar suas experiências.
Apostar no potencial da base de clientes faz todo o sentido para a Totvs, uma vez que seus concorrentes internacionais não possuem algo semelhante. Segundo Lima, da IDC, a Totvs é a única companhia do setor presente em quase todo o território brasileiro, condição invejada por SAP e Infor. Não por acaso, essas duas rivais estão investindo fortemente na expansão de suas atividades para além do eixo Rio-São Paulo. Segundo André Petroucic, vice-presidente da SAP no Brasil, o plano é alcançar uma cobertura nacional já neste ano. Desde já a maior empresa de software empresarial do mundo está à procura de colaboradores para atuação na venda e na instalação de seus sistemas.
“Queremos parceiros locais para atender ao mercado local”, afirma Petroucic. Segundo o executivo, em número de empresas, as pequenas e médias já representam 70% da base de clientes da SAP no País. No caso da americana Infor, a meta é triplicar em 2012 o número de parceiros nacionais. “O Brasil está chamando a atenção”, afirma Robert Faricy, vice-presidente da Infor para a América Latina. “Nossos investidores cobram ações por aqui.” É por essas e outras que a Totvs tem razões para cuidar bem do seu perfil na rede social que acaba de criar. Afinal, há concorrentes de sobra interessados em curtir o filão de mercado das pequenas e médias empresas.

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“Queremos ser o Barcelona da tecnologia”
O presidente da brasileira Totvs, Laércio Cosenti­no, quer transformar a empresa em uma referência global. Para isso, o executivo se espelha no campeoníssimo time da Catalunha, o Barcelona de Messi & Cia. Confira trechos da entrevista exclusiva concedida à DINHEIRO:

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A Totvs vai ampliar sua atuação para fora do País?
O objetivo atual é transformar a empresa em uma referência global. Isso significa duas coisas: ser uma opção para as companhias estrangeiras que estão entrando no Brasil e também para as brasileiras que se aventuram globalmente. O modelo que adotamos é o do time de futebol do Barcelona. Ele não atua em todos os campeonatos, mas vende seus produtos em praticamente qualquer país. Queremos ter o mesmo reconhecimento no mercado de tecnologia.
O governo, por meio do BNDES, ajudou empresas brasileiras de alguns setores a se tornar grandes multinacionais. Por que isso não aconteceu na área de tecnologia?
Começamos, há mais de uma década, o processo de consolidação do setor de software brasileiro, que culminou na compra da Datasul pela Totvs, em 2008. Para essa aquisição, tivemos financiamento do BNDES. Unir companhias baseadas em pessoas, como as de tecnologia, é mais difícil. Quando se juntam duas fábricas, por exemplo, é possível fechar uma e continuar a operar só com a outra. Mas não dá para fazer o trabalho de três mil funcionários com apenas 1,5 mil, ainda mais considerando que as companhias do setor possuem culturas diferentes.
Hoje a Totvs é a sexta maior empresa de software empresarial do mundo. Até 2016, o sr. diz que pretende estar entre as três primeiras. Como alcançar esse objetivo?
Somos a sexta companhia em receita, mas a primeira em ritmo de crescimento. Em 2010, enquanto alguns dos competidores acima de nós tiveram queda de receita e outros cresceram abaixo de 10%, aumentamos o faturamento em quase 35%. Além disso, temos tecnologia própria, o que não acontece com dois dos cinco que estão na nossa frente. Isso é um diferencial muito importante a nosso favor.
No Brasil, a Totvs cresceu por meio de aquisições. A estratégia pode ser repetida no Exterior?
No atual ritmo de crescimento, não vamos precisar de aquisições. Mas a compra de empresas não está descartada. No ano passado, quitamos o financiamento obtido para a aquisição da Datasul. Nosso endividamento hoje é de 0,2% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização) e temos R$ 287 milhões em caixa. Acredito também que podemos contar com o BNDES. Temos crédito na praça.

Fonte: Istoé Dinheiro

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