Com a inauguração de sua loja-conceito em  Manhattan, a Melissa quer se consolidar na preferência das brasileiras  antenadas em moda.        
Em um dos mais sofisticados endereços de Nova York, nas vizinhanças da  luxuosa Tiffany’s e da cobiçada Stella McCartney, no Soho, uma grife  brasileira, antes mesmo de abrir as portas, já chamava a atenção. A  fachada em questão é a da Melissa, marca de calçados femininos do grupo  gaúcho Grendene. A inauguração de sua primeira loja-conceito lá fora,  marcada na semana passada e que contou com investimentos de US$ 3  milhões, faz parte da ofensiva da empresa para conquistar um público  mais sofisticado, principalmente as brasileiras antenadas em moda.

Mesmo sem pontos de venda próprios fora do País, o sucesso da Melissa  no Exterior não é de hoje. Há sete anos, os calçados da grife nacional  fazem parte do catálogo de luxuosas lojas de departamento, como a  americana Saks e a francesa Galerie Lafayette, lado a lado com marcas  europeias. Detalhe: enquanto um par de sandálias Melissa custa, em  média, US$ 80, a britânica Manolo Blahnik e a francesa Christian  Louboutin chegam a valores próximos a US$ 4 mil. “Para conquistar mais  espaço do mundo fashion, o foco da estratégia da Melissa é o design, não  o preço”, diz a estilista mineira Patrícia Nascimento. 
 Para consolidar a imagem da Melissa no mundo fashion, sem encarecer  seus produtos, o gerente de operações da Grendene, Paulo Pedó, apostou  em uma estratégia sensorial e ligada no comportamento. Segundo ele, a  grife estabelece uma relação afetiva, e não utilitária, com a  consumidora. “A marca imprime estilo no vestuário das clientes”, diz  Pedó. “É isso, e não a exclusividade, o que atrai o nosso público.” Até o  cheiro das sandálias da grife, feitas com um tipo de plástico  sustentável, o melflex, é usado no marketing de vendas. “Elas têm um  aroma marcante, que aguça a memória olfativa.” Por seu turno, o plástico  utilizado como matéria-prima está longe de empobrecer a imagem da  marca.

O material, simples e barato, é o responsável por diferenciar a  grife no mercado de calçados ao proporcionar modelos coloridos e  inusitados. Mesmo as cópias chinesas, que custam em torno de US$ 15, não  são uma ameaça para a grife brasileira, de acordo com Pedó. “Quem quer  uma Melissa não se satisfaz com uma cópia”, diz ele. “A gente não vende  um sapato, vende um pensamento.” A exemplo de redes de moda fast fashion  (moda rápida, em português), como a sueca H&M e a americana Forever  21, a Melissa investe em parcerias com estilistas renomados para  agregar valor às suas peças, extremamente mais baratas do que as das  marcas conceituais. 
  
 A diferença é que a empresa dos irmãos Pedro e Alexandre Grendene  já havia sacado essa estratégia desde a década de 1980, quando fechava  parcerias com o francês Jean Paul Gaultier. Depois dele, ainda vieram a  britânica Viviane Westwood, o americano Jason Wu e os brasileiros  Alexandre Herchcovitch e Pedro Lourenço. 
Hoje, a grife faz  questão de estar próxima também do design, da arquitetura e da arte,  tendo como aliados designers de renome, como os compatriotas irmãos  Campana, o egípcio Karim Rashid e a arquiteta iraniana Zaha Hadid. Por  isso, a escolha de lojas-conceito, como a da rua Oscar Freire, em São  Paulo, desde 2005, e a recém-inaugurada, em Nova  York.

Os dois locais – únicos pontos de venda próprios da marca – têm  projetos semelhantes, com design moderno e exposições badaladas. O  restante da distribuição é feito por meio de pontos terceirizados  supervisionados por 48 escritórios distribuídos ao redor do mundo. A  valorização da marca no Exterior é uma receita conhecida no mundo dos  negócios. Tanto que o esforço da grife em se posicionar como item de  desejo se assemelha à bem-sucedida campanha das Havaianas, do grupo  paulista Alpargatas. “A presença da Melissa nas melhores lojas do  planeta torna o produto mais atraente no Brasil”, diz Pedó. 
  
 Cidades de destaque na moda, como Nova York, Londres, Paris, Milão,  Tóquio, Hong Kong e Xangai representam, somadas, mais de 20% das vendas  da grife no mercado externo. Ainda assim o Brasil é o lugar em que a  empresa mais fatura. Nos planos imediatos da Melissa, está a abertura de  outra loja-galeria ainda neste ano, mas, desta vez, na Europa. Para os  próximos anos, a proposta é levar pontos próprios também para a Ásia. A  marca é reconhecida em Tóquio. Ao agradar ao seleto e exigente público  fashion, a Melissa prova que o popular nem sempre é algo ruim quando o  assunto é moda.
Fonte: 
Istoé Dinheiro 
 
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