Artistas chineses já superam, em vendas, mestres consagrados do Ocidente, como Pablo Picasso e Andy Warhol.
O que vale mais, um quadro do espanhol Pablo Picasso ou um do chinês Zhang Daqian? Se respondeu Picasso, saiba que você está redondamente equivocado. Nos últimos anos, a China, famosa por seus produtos baratos e diversificados, tem se tornado referência também no mundo da arte. Dos cinco artistas (todos mortos) que mais faturaram com vendas de obras no ano passado, três são chineses, segundo dados da Artprice, agência francesa de informações sobre arte. Até mesmo a supremacia de Picasso foi derrubada. O ícone catalão, que reinou por uma década no topo da lista dos artistas que mais vendem, foi superado por Zhang Daqian.
Em 2011, o pintor chinês foi o que mais movimentou o mercado de leilões de arte: US$ 529,2 milhões, vendendo em torno de US$ 214 milhões a mais que o espanhol. Zhang não foi o único. Seu compatriota Qi Baish foi outro a superar o autor de Guernica em números, faturando US$ 479,8 milhões. Em terceiro lugar está o americano Andy Warhol, com US$ 325,7 milhões. Picasso aparece somente na quarta colocação, seguido de outro chinês, Xu Beihong, com US$ 221,8 milhões. O especialista Martin Bremond afirma que a liderança dos chineses nas galerias se deve ao fortalecimento econômico da Ásia, que hoje representa 43% do mercado mundial de arte.
“As pessoas gostam de consumir a cultura local, os chineses, ainda mais”, diz Bremond. No caso da China, a vantagem é que as obras de Daqian e Baish, nomes relativamente desconhecidos no Ocidente, foram feitas em um país em que há 146 bilionários e cerca de 400 mil milionários, segundo a revista Forbes. “Quase todas as obras de Zhang Daqian foram vendidas em leilões para clientes chineses”, diz Bremond. Para Blagocjo Dimitrov, professor de artes plásticas da Escola Panamericana, de São Paulo, esse predomínio já era esperado. “O desenvolvimento da indústria chinesa aumentou a riqueza no país e, assim, eles têm mais dinheiro para investir em cultura”, afirma Dimitrov.
É o segundo ano consecutivo em que a arte made in China ocupa o topo da lista. Em 2009, os Estados Unidos eram líderes. Hoje, os americanos aparecem na segunda colocação, com 25%, seguidos pelo Reino Unido, com 20%. E, ao que tudo indica, o país mais populoso do mundo quer mesmo entrar na briga para se tornar o centro mundial da cultura. Entre os 100 maiores leilões realizados no ano passado, 30 aconteceram em cidades chinesas, como Hong Kong, Pequim e Hangzhou. Os números da Artprice deixam clara a evolução chinesa no cenário mundial de arte. No continente asiático, só os compradores chineses movimentaram, no ano passado, 41% do mercado de leilões – contra 34% em 2010.
Ou seja,
dos US$ 11,5 bilhões obtidos com as vendas de obras em todo o mundo, US$ 4,7 bilhões saíram dos bolsos dos novos ricos da terra de Mao Tsé-tung. Tanto Daqian quanto Baishi são considerados mestres da pintura tradicional chinesa. Zhang apresenta um estilo variado, costumando retratar paisagens de seu país com bastante frequência. Já Baishi demonstra uma preferência por animais e flores – e eventualmente retratos de mulheres, como a
Portrait of a Lady, na foto abaixo. “Mas os dois possuem estilos semelhantes”, diz Dimitrov, da Panamericana. Xu Beihong segue a mesma linha de seus conterrâneos, dando preferência para pinturas de cavalos e pássaros. “Esses artistas chineses ficaram conhecidos por ser os primeiros a retratar, no início do século XX, a China moderna.”
O professor de artes plásticas afirma também que a valorização cultural em torno das obras chinesas gerou uma supervalorização dos preços das pinturas. Martin Bremond, da Artprice, confirma a informação. “Em 2011, o valor médio das obras de Zhang ficou acima de US$ 158 mil, mas alguns quadros em particular faturaram muito mais”, diz. É o caso de
Lotus e Patos (1947), arrematado no ano passado por US$ 21,8 milhões em um leilão da Sotheby’s Hong Kong. Segundo Bremond, Daqian não está sozinho nesse cenário. “Todas as obras chinesas estão apresentando aumento em seus valores.” Qi Baishi, por exemplo, faturou ainda mais: US$ 57,2 milhões pelo quadro
Águia em um pinheiro, também vendido no ano passado. É a China conquistando um mercado, até então, pouco explorado por ela.
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