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terça-feira, 23 de junho de 2009

Especial Google

Google que ninguém vê
Como a marca mais badalada da internet construiu no Brasil, a partir do zero, uma operação que se tornou referência mundial

Em cada um dos últimos quatro anos, a receita do Google Brasil cresceu três dígitos e hoje a participação de mercado é de 90%, o mais alto índice do mundo

Religiosamente, toda quinta-feira, no final de tarde, os funcionários do Googleplex, a sede brasileira do grupo, se dirigem a uma sala batizada de All Hands. Esse é um dos momentos mais aguardados na semana pela equipe de 250 funcionários da operação brasileira. A expectativa não tem a ver apenas com o clima de descontração da reunião, sempre regada a cerveja e coxinhas. É que desses encontros, em que a equipe compartilha resultados e ideias, costumam surgir os projetos que levaram a subsidiária brasileira ao topo do melhor desempenho do Google no mundo. Desde 2005, primeiro ano de operação por aqui, o Google Brasil aumentou a receita em mais de 18 vezes e sua participação de mercado atingiu um nível inédito - de 47% saltou para 90%, o maior índice do mundo. Diversas de suas práticas têm sido adotadas por outras subsidiárias e o "case" Brasil se tornou uma referência até para os fundadores da companhia, Sergey Brin e Larry Page. Foram também as tardes de integração, uma invenção do escritório brasileiro, que ajudaram a empresa a enfrentar os episódios mais constrangedores de sua trajetória, como a acusação de abrigar pedófilos no Orkut, sua rede social. A filial, que por conta desse evento chegou a ser apontada como uma fonte de problemas para a matriz, hoje ocupa uma posição de destaque por seu desempenho. Tanto que o escritório de São Paulo se tornou responsável pelas operações da companhia na América Latina. Antes a região era dirigida diretamente de Mountain View, no Estado americano da Califórnia, onde fica o quartel-general mundial. O grande responsável por essa virada foi Alexandre Hohagen, um brasileiro de 41 anos, formado em jornalismo, com passagens por corporações como Banco Real e UOL. À frente das operações no País desde o início, o executivo hoje ocupa o cargo de diretor-geral da América Latina. "A criação de uma cultura única, reconhecidamente colaborativa e com os maiores índices de satisfação em toda a corporação, nos fez chegar até aqui", afirmou Hohagen em entrevista à DINHEIRO.

O País passou a figurar entre as prioridades do Google quando a empresa decidiu que era o momento de diminuir a excessiva dependência do mercado norte-americano. Mas, diferentemente dos outros países escolhidos - China, Índia, México e Hong Kong -, o Brasil não inspirou, de cara, confiança aos fundadores Larry Page e Sergey Brin para receber uma estrutura completa. A ideia inicial era abrir apenas um escritório regional de vendas. "O potencial do mercado, a explosão do comércio eletrônico e a complexidade tributária pesaram na mudança de estratégia para o País", conta Hohagen. Empresa jovem, com apenas seis anos de existência na época, o Google não tinha experiência em comandar operações em países emergentes a distancia. Até então os clientes da América Latina eram atendidos por funcionários localizados em Dublin, na Irlanda. "A orientação que recebi foi: vai lá, monte uma operação e faça ela crescer", lembra Hohagen, quando foi convidado para assumir a companhia no Brasil. Dessa forma, ele cumpria um antigo projeto pessoal. Desde que era um assessor de imprensa na Dow Química, mais de 15 anos antes, ele já garantia que um dia seria presidente de uma multinacional. Hoje, o executivo segue os hábitos típicos dos comandantes de empresas ícones do mundo digital. Tem uma presença ativa na internet e costuma trocar ideias descontraídas com internautas em sua página no Twitter. "Encarei um prato de miojo agora à noite. Um pouco de carboidrato para aguentar o frio da corrida amanhã cedo!", foi uma de suas mensagens. Em quatro anos, se tornou uma referência no mundo da tecnologia no Brasil. Foi, por exemplo, convidado para participar de um almoço com o príncipe Charles no Palácio do Itamaraty, quando o sucessor do trono inglês visitou o Brasil. Também foi convocado para falar sobre novas tecnologias para o embaixador americano no Brasil.

Foi a facilidade de comunicação que fez o executivo enfrentar a ação do Ministério Público contra a empresa. O Google foi cobrado pela Justiça e pela Polícia Federal por não colaborar com investigações sobre pedofilia na internet. De acordo com os investigadores, a empresa se negava a divulgar o nome de internautas que mantinham um conteúdo de pedofilia no Orkut. O Ministério Público chegou a pedir o fechamento das operações no País. Até ameaças de prisão, Hohagen ouviu. "Ele foi extremamente hábil e assumiu uma postura contrária a uma recomendação errônea que vinha da matriz de manter os dados em sigilo", afirma Moacir Oliveira Júnior, professor de estratégia da FEA-USP. Para o executivo Roberto Grosman, que durante dois anos comandou a área de AdSense do Google para a América Latina, a capacidade de Hohagen de separar o problema das atividades da companhia "salvou a subsidiária do seu fechamento". "Ele mantinha a equipe informada do que estava acontecendo, mas não permitiu que a crise contaminasse os negócios internos", lembra Grosman. Hohagen conta que, assim que o assunto veio à tona, ele se colocou como o responsável pelo relacionamento com as autoridades. Não se trata de um ato heroico. "Dessa forma, deixei os demais executivos livres para tocar os negócios e, assim, preservar o ambiente de trabalho", diz ele.
CLAUDIO GATT I/ AG . ISTOE

Menos ruidosa, mas igualmente feroz, foi a briga pelo mercado brasileiro de buscadores. Com apenas cinco funcionários, Hohagen teve de brigar contra o domínio de seu arquirrival, o Yahoo!, que em 2002 havia adquirido o sistema de busca do Cadê. "Saímos agressivamente para fechar parcerias com os grandes portais", conta Hohagen. O cenário logo se reverteu. Hoje, a maioria dos sites usa o sistema do Google, entre eles UOL, Terra, IG e Globo. Em pouco menos de um ano, a equipe brasileira elevou o nível de participação de mercado a quase 90%, enquanto nos EUA e na Europa é de 57% e 70% respectivamente. Em uma visita-surpresa ao Brasil, no início de 2006 (leia no quadro escrito por Hohagen), os fundadores do Google descreveram a imagem que a subsidiária brasileira conquistou lá fora. "Viemos conhecer o escritório local, que tem a equipe mais motivada e barulhenta do Google", disse Brin. "Queremos aprender mais sobre as operações no Brasil. Este mercado é diferente de qualquer outro, muito mais social e dinâmico." O que chama a atenção da matriz é a rapidez com que os produtos do Google são absorvidos no País. No Orkut, a comunidade brasileira é líder absoluta. Já no YouTube, o País é o quinto em número de visitas e usuários em todo o mundo. "Mas a marca que mais impressiona é que o Youtube Brasil, desde o começo da operação, foi um dos que mais cresceram em receita", afirma Hohagen. De acordo com o executivo, no início de junho, por exemplo, todas os espaços publicitários para o mês já estavam vendidos. "Estamos agora exportando essa experiência para o Orkut", revela.

"Nossa estratégia é catequizar o mercado por meio de workshops e divulgação de resultados", Alex Dias, diretor-geral do Google Brasil

Enquanto as parcerias online iam se firmando, os executivos empenharam-se na evangelização de clientes. "Nossa estratégia é catequizar o mercado por meio de workshops e divulgações de resultados", revela Alex Dias, responsável pelas operações do Google no Brasil. A equipe passou a frequentar ativamente encontros empresariais para apresentar seu modelo de publicidade. "O Hohagen sempre esteve muito mais na mídia do que outros diretores-gerais", afirma Grosman. A operação nacional adotou uma nova estrutura de atendimento. "Eu não tenho especialistas em vendas, e sim pessoas que conhecem muito cada segmento específico da economia", explica Hohagen. A empresa contratou, por exemplo, o VP de marketing do Carrefour para assumir o cargo de diretor de negócios do varejo. E trouxe um executivo da Volkswagen para cuidar dos clientes do setor automotivo. Bem-sucedido, esse modelo foi exportado para outras subsidiárias. Em cada um dos últimos quatro anos, a receita da operação no Brasil registrou um crescimento de três dígitos. E a empresa não divulga sua receita no País. No mundo, o Google obteve um faturamento de US$ 20 bilhões em 2008. O modelo de publicidade criado pelo Google permite à empresa atingir de grandes a microempresários. Como é o caso do Vidinha Doces, um negócio familiar que usa o sistema de links patrocinados como única ferramenta de publicidade. "Em três meses, nosso faturamento cresceu mais de 70%", afirma Marco Leitão, que investe R$ 150 por semana no modelo de publicidade. Hohagen não revela o número de clientes no Brasil, mas deixa claro qual sua ambição. "Acreditamos que 1,2 milhão de empresas brasileiras estejam na internet. Meu foco é atingir todas elas", afirma ele.

Diário de Hohagen
O presidente do Google para a América Latina, Alexandre Hohagen, costuma dizer que ainda escreverá um livro sobre sua experiência na empresa. Os três textos abaixo, redigidos para a DINHEIRO pelo próprio Hohagen, um jornalista por formação, poderiam tranquilamente ser incluídos na obra planejada.

CLAUDIO GATT I/ AG . ISTOE

Surpresa: os donos chegaram

Era o começo de 2006, recebi uma chamada do gerente de relações governamentais para dizer que os fundadores do Google, Larry Page e Sergei Brin, e o CEO da empresa, Eric Schmidt, gostariam de conhecer o presidente Lula durante o Fórum Mundial, em Davos. Preparei um relatório sobre nossos desafios, a operação local e o País. Fiquei na expectativa de saber como havia sido a reunião. Ouvi que Eric ficou muitíssimo impressionado com Lula. E que Lula se disse fã do Google Earth. Para minha surpresa, logo depois desse encontro, recebo um e-mail de uma das secretárias de Larry e Sergei dizendo que eles passariam no Brasil no caminho de volta para conhecer um pouco mais sobre o etanol brasileiro. Combinamos uma visita à Cosan, muito bem ciceroneada por Rubens Ometto e Paulo Diniz. O detalhe foi a surpresa que preparei para o pessoal do escritório. Combinei com os dois e, sem dizer nada aos funcionários, pedi para que todos me esperassem no escritório para um almoço especial. Pedimos alguns sanduíches e na hora marcada cheguei de surpresa com os fundadores do Google. A reação do time foi fantástica!

Pane no ar

Entre 2007 e 2008 conversamos com as Organizações Globo para estabelecer uma parceria mais ampla com o grupo. Além do nosso motor de busca e soluções de monetização nos sites da Globo, havia também a nossa solução e plataforma de e-mail. Aproveitando a visita de Omid Kordestani, vicepresidente global de negócios, conseguimos marcar com Juarez Queiroz e Jorge Nóbrega, altos executivos da Globo, uma reunião no Rio, no único horário na corrida agenda dos executivos. Era "a oportunidade" para avançar nas conversas. A bordo do jato da empresa, exatamente na metade do caminho entre São Paulo e Rio, a aeromoça avisa que um problema nos obrigaria a voltar para São Paulo. Sabendo da importância da reunião e da dificuldade de conciliar as agendas novamente, insisti. Foi quando o capitão nos avisou que uma ave havia se chocado e trincado o para-brisa da aeronave e teríamos que regressar para manutenção no hangar em São Paulo. Não era para ser...

Roberto Irineu e Eric no Projac

Eric Schmidt veio ao Brasil para uma visita de alguns dias, em 2007. Em função do incidente que nos obrigara a desmarcar a visita à Globo, pedi que ele nos acompanhasse a uma viagem ao Rio, desta vez para uma conversa com Roberto Irineu Marinho e equipe. Chegamos ao Projac vindos de um rápido tour de helicóptero pelos pontos turísticos do Rio. Após algum tempo de reunião, Roberto Irineu nos convida para uma visita às instalações e estúdios do Projac. Num desses carrinhos elétricos, nosso anfitrião dirige e nos guia ao lado de Eric, impressionado com o tamanho e a qualidade do local. No ano passado, a parceria foi fechada e implementada.

Google além do buscador
Não só de buscas vive o portal. A companhia desenvolveu várias outras maneiras de conquistar usuários e receitas, inclusive com produtos pagos

Se há uma receita que explique o sucesso do Google é essa: a empresa sabe desvendar os desejos de internautas de todo o mundo. Com suas criações, acabou revolucionando a maneira de as pessoas lerem e-mails, procurarem caminhos e até conhecerem pessoas.

Seja no Brasil, seja na Nova Zelândia, Alemanha ou México, sua ferramenta gratuita de busca é a mais acessada e garante praticamente toda a receita da companhia com a venda de anúncios. Para se ter ideia, 98,5% do seu faturamento é proveniente da publicidade online no site de busca e nas suas outras ferramentas. Mas o Google ainda tem muito que lucrar com suas outras faces, ainda pouco disseminadas. Gratuitas, com exceção dos pacotes para grandes corporações (leia no quadro ao lado), as soluções seguem a filosofia de reunir, organizar, compartilhar e divulgar informações de maneira prática e simples. Aqui reunimos algumas das principais delas, que prometem ajudar os usuários a organizar sua vida virtual.

Gmail
Criado em 2004 com 1GB de espaço de armazenagem, o serviço gratuito de e-mail Gmail modificou o conceito de webmail e forçou o mercado a se reinventar. Seu surgimento forçou o Yahoo e a Microsoft, que ofereciam apenas 6MB e 2MB (1MB equivale a 1 milhão de bytes) respectivamente, a aumentar a capacidade dos seus serviços de mensagens para continuarem competitivas. O mesmo teve de ser feito por outros servidores pagos. Pouco tempo depois, o Gmail aumentou novamente o espaço oferecido e assim sucessivamente a ponto de, hoje, cada usuário poder guardar 315 bytes por segundo em seu endereço virtual.

Gtalk
Para atrair ainda mais usuários, em agosto de 2005, as contas de e-mail do Google ganharam mais uma funcionalidade: um serviço de mensagem instantânea. Com o Google Talk, as pessoas podiam usar gratuitamente o comunicador enquanto estavam na página do Gmail. O produto foi criado para competir diretamente com o MSN, da Microsoft, e o Yahoo Messenger, da Yahoo. De lá para cá, a ferramenta ganhou novas funcionalidades, como envio de documentos e integração do site de relacionamento Orkut. A inclusão da opção de áudio e vídeo também fez com que a empresa entrasse em uma disputa com o comunicador Skype.

Docs

Esta ferramenta permite que pequenas empresas economizem com licenças de softwares para realizar tarefas simples de editor de textos e planilhas. Com o Google Docs o usuário importa documentos, planilhas e apresentações. Como os documentos são armazenados online, o acesso pode ser feito de onde ele estiver. Ou seja, se uma pessoa tiver de modificar algum arquivo durante uma viagem para o Exterior, ela consegue cumprir a tarefa até se estiver em uma lan house. Outra grande sacada da ferramenta é permitir que os arquivos sejam compartilhados e alterados ao mesmo tempo por outras usuários do sistema.

Agenda
Gerenciar tarefas e compartilhar conteúdo com outras pessoas. Essa é a função do Google Agenda, um gerenciador de tarefas que se integra à conta dos usuários de e-mail do Google. Com uma interface simples e organizada, permite acessos a recursos como compartilhar agendas, agregar conteúdo de outras agendas e controlar eventos. Os compromissos podem ser visualizados por dia, semana ou mês. Imagine marcar um encontro com os amigos ou uma reunião com algumas pessoas do trabalho por meio do aplicativo. Para isso, basta incluir o evento na data e permitir a inclusão da informação na agenda por outros usuários.

Desktop
O Desktop Search foi criado com o objetivo de simplificar a organização de informações. É possível fazer buscas de arquivos dentro do computador, em e-mails do Outlook/Outlook Express, arquivos do Word, Excel e PowerPoint e histórico de páginas visitadas na internet. A ferramenta permite ainda que informações sejam inseridas e compartilhadas pelos usuários do sistema e traz uma barra lateral personalizável para acesso a outras seções, como a de notícias, meteorologia, fotos e e-mail.

Chrome
O browser Chrome surgiu, em setembro do ano passado, para competir com o Internet Explorer, da Microsoft, o Firefox, da Mozilla, e o Safári, da Apple. O navegador é capaz de gerenciar vários aplicativos independentes ao mesmo tempo, como acesso à internet, arquivos de música, processador de texto e organizador de fotos. Segundo um recente relatório da NetApplications, até abril deste ano, o navegador do Google possuía 1,8% do mercado mundial. O Explorer ainda lidera de longe o segmento de browser com 65,5%, sendo que o Mozilla detém 22,5% e a Apple, 8,4%.

Maps
Encontrar locais específicos, traçar rotas de tráfego e visualizar mapas: esse é o papel do Google Maps. O serviço disponibiliza mapas e rotas para qualquer ponto do planeta. A versão brasileira traz ainda o Local Business Center, ferramenta que permite o cadastro de empresas que queiram ser encontradas no sistema por qualquer usuário. Algumas empresas petrolíferas, por exemplo, já utilizam a solução para visualizar pontos estratégicos para pesquisas de novas bacias de petróleo.

Earth

Quando surgiu, em 2004, o Google Earth revolucionou a maneira como enxergamos o mundo. Com ele, é possível ver imagens de satélite, mapas, terrenos e construções em 3D. O sistema pode ser adaptado para necessidades corporativas no formato Pró. Nesta versão, é possível realizar pesquisa e inclusão de dados e restringir o acesso a elas. Como exemplo, a Eurodisney criou uma ferramenta interativa que proporciona aos clientes uma viagem tridimensional pelo destino turístico.

De olho nas empresas
Hoje, 98,5% do que o Google fatura vem das vendas de anúncios nas páginas de suas ferramentas. Mas a companhia quer diminuir essa dependência, ampliando as fontes de geração de lucro. Daí surgiu o Google Enterprise. Trata-se de pacotes das ferramentas já existentes adaptadas para as necessidades empresariais, com a vantagem de contar com o suporte técnico e hospedagem de informações nos servidores do Google. Hoje, essas soluções representam apenas 2% do faturamento. "É um número ínfimo perto do potencial que podemos atingir. Estamos mostrando às empresas como elas podem explorar nossos produtos para aumentar a produtividade", afirma Alexandre Hohagen, diretor-geral do Google América Latina. A grande vantagem dos pacotes corporativos para as empresas é a facilidade de implementação do sistema por parte dos colaboradores. Como as soluções são baseadas em produtos já disponíveis gratuitamente pelo Google no mercado, muitas pessoas têm familiaridade com algumas das ferramentas e dispensam treinamentos técnicos e apresentações. Entre os produtos do pacote estão o Docs, Desktop, Agenda e Gmail. Um serviço semelhante ao Enterprise é oferecido, gratuitamente, para empresas que tenham menos de 50 acessos a uma única rede. Para esse público, o pacote de aplicativos é o APP e o suporte é online.

A economia segundo o Google

O site já é capaz de antecipar grandes indicadores econômicos e pode estar criando um futuro em que o preço de todas as transações será definido em leilões
"Fazer previsões é sempre difícil, especialmente sobre o futuro." Durante muito tempo, a frase do jogador de baseball Yogi Berra ficou na cabeça de Hal Varian, um acadêmico californiano que se tornou economista-chefe do Google. Até que, recentemente, ela serviu de inspiração para um dos maiores insights de sua vida - se prever o futuro é tão difícil, por que não prever o presente? Em abril deste ano, a ideia foi colocada num trabalho chamado "Prevendo o Presente a Partir do Google Trends". Mas, mais do que um simples exercício acadêmico, Varian foi um dos primeiros a apontar, já naquele mês de abril, que a recessão americana apresentaria sinais de melhora. Isso porque as buscas relacionadas a temas como seguro-desemprego e recolocação profissional no Google estavam perdendo a intensidade. Decorridos 21 dias, quando o Departamento de Estatísticas de Emprego dos Estados Unidos revelou seus resultados, a tese de Varian se confirmou. Mas quem soubesse disso de antemão poderia também ter antecipado a alta do mercado acionário, que foi próxima a 50%.

Na verdade, o que muitos consultores e futurólogos fazem é justamente prever tendências a partir de estatísticas divulgadas por governos, entidades setoriais e empresas. Ocorre que as estatísticas sempre se tornam públicas com algum atraso, desde a coleta de dados até os resultados. O Google, ao contrário, pode fornecer uma fotografia instantânea, ainda que sujeita a imprecisões. Varian cita como exemplo o mercado de automóveis. A quantidade de buscas por um determinado modelo irá se refletir, futuramente, em vendas reais. Segundo Qinq Wu, um dos economistas da equipe de Varian, o Google pode ser definido como "o barômetro dos tempos modernos". Um produto demandado, e portanto valioso, estará no topo de uma lista de buscas, enquanto uma mercadoria encalhada terá poucos visitantes.

Por dispor da maior base de dados do mundo, o Google criou divisões de trabalho corporativas para ajudar as empresas a interpretar as informações e, a partir delas, conquistar novos clientes. As divisões mais importantes são as de varejo e serviços financeiros. Dias atrás, o responsável pela área global de serviços financeiros do Google, Jon Kaplan, falou com exclusividade à DINHEIRO. "A crise quebrou paradigmas e fez emergir um novo cliente", disse ele. "Além de mais atento aos custos e à comparação de serviços, ele passou a se focar em segurança e preservação de capital." Todas essas tendências podiam ser detectadas em expressões que eram colocadas na tela de buscas do Google. Entre elas, "stress-tests" (os testes aos quais os bancos americanos foram submetidos) e "FDIC" (o organismo governamental que garante os depósitos bancários). "Em plena crise, o Chase Manhattan, que trabalhou o conceito de segurança, aumentou seus depósitos em US$ 700 bilhões", diz Kaplan. Também se beneficiaram corretoras que operam sistemas de home-broker nos EUA, como e-trade e Ameritrade, em detrimento dos fundos. "Muitos investidores ficaram desapontados com seus gestores e se deram conta de que, se eles perdiam 40% do capital, seria melhor agir por conta própria."

No Brasil, o mesmo fenômeno foi observado. De acordo com Andreas Huettner, diretor-executivo do Google no Brasil, a combinação de palavras mais pesquisada no auge da crise foi "investimento seguro". Com o passar do tempo, a aversão ao risco diminuiu e o consumidor voltou a buscar operações de crédito de longo prazo. "Tudo muda rápido e as empresas só têm a lucrar se estiverem sintonizadas com os internautas", disse Huettner à DINHEIRO. Ele falou de uma pesquisa recente feita pelo Google em que as ferramentas de busca foram apontadas como a segunda maior fonte de informações para a tomada de decisões de compra de produtos financeiros - perdem apenas para os sites dos bancos.

Com os dados na mão, as equipes do Google procuram as empresas para vender seu principal produto: o AdWords, que comercializa links patrocinados para uma determinada expressão-chave. Ela pode estar relacionada a uma decisão econômica em tempos de crise, como "investimento seguro". Neste caso, o internauta encontrará links para a corretora Ágora, que é cliente do Google. E é com essa venda de publicidade, por meio de leilões abertos, que o Google obtém uma receita anual de US$ 21 bilhões. Nesse mercado, em que se realizam milhões de leilões a cada dia, o economista Hal Varian criou seu próprio índice de inflação. Trata-se do KPI (keyword price index), que mede os preços das palavras-chave. Essa imensa máquina de leilões poderá vir a ser, segundo Eric Schmidt, CEO da empresa, um modelo para todas as transações comerciais do futuro, em que não existirá um preço fixo e predeterminado - mas, sim, um preço a ser negociado a cada instante entre compradores e vendedores. Eis aí a grande utopia da Googlenomics.

Google na mira
As ameaças que pairam sobre a empresa no momento de sua transição de "site bacana" para "gigante corporativa"
Atuação em pratos limpos: transparência é o caminho para a empresa de Brin e Page evitar problemas

Assim que surgiu para o mundo, há apenas dez anos, o Google se tornou uma das empresas mais "bacanas" do mercado. Criativo, inovador, o buscador oferecia serviços e ferramentas simples e úteis, além de se apresentar com cara de bom-moço. Mas a lua de mel durou até que o Google ficasse grande e começasse a investir nas mais diversas áreas do mundo da tecnologia, dos navegadores às redes sociais. De queridinho dos internautas passou a ser alvo das mais variadas acusações. "O Google se tornou muito poderoso, talvez por captar tanta informação de seus usuários. E, quando alguém fica muito poderoso, as pessoas ficam mais desconfiadas", diz o analista do Gartner, David Mitchell. Um dos ataques recorrentes é a de invasão de privacidade. O ex-beatle Paul McCartney exigiu que a foto de sua casa fosse retirada do Google Earth, pois a imagem, de certa forma, expunha sua intimidade. Aqui no Brasil, a empresa sofreu pressão semelhante, quando um vídeo com cenas "calientes" da modelo Daniella Cicarelli com o namorado foi postado no YouTube, o site de vídeos do Google. Revoltada, a modelo conseguiu na Justiça a retirada do vídeo do ar. Mais recentemente, nos EUA, a empresa foi obrigada a pagar US$ 125 milhões para editoras e autores a título de direitos autorais de livros que escaneou e colocou à disposição gratuitamente na internet. Resolvido? Não. Logo, o Departamento de Justiça dos EUA começou a investigar o acordo para saber se ele fere as regras comerciais antitruste. Em 2008, as mesmas autoridades barraram a possível associação do Google com seu rival, o Yahoo!

A companhia fundada pelos jovens Sergey Brin e Larry Page parece trilhar os passos da Microsoft. A admiração inicial por Bill Gates e por sua criação foi se transformando, ao longo do tempo, em manifestações contra o poder econômico e a postura monopolista exercidos pela Microsoft, segundo seus críticos. Para o Google, porém, as ameaças ainda não estão tão presentes. "No momento, o maior risco é interno", diz Alberto Griselli, sócio da consultoria Value Partners no Brasil. "Quanto maior a empresa, menor tende a ser o ímpeto inovador, e isso seria fatal para o Google." Externamente, porém, ele acredita que o Google ainda está longe de enfrentar dificuldades realmente sérias - a companhia, diz, gera negócios para muitas empresas e as ajuda a aumentar suas receitas. O melhor antídoto contras as ameaças é a transparência, na opinião de Fábio Filho, diretor-geral da Canonical, empresa de investimento em tecnologias de internet. "Muitos acusam o Google de dominar informações demais. Mas foram os próprios usuários que as disponibilizaram", diz Filho.

Por José Sergio Osse

Fonte: IstoÉ Dinheiro

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