Começou a contagem regressiva para a temporada de caça aos altos executivos. Conheça as grandes empresas que buscam novos comandantes e prometem salários de até R$ 5 milhões aos eleitos.
Uma questão vem ocupando uma parte importante da agenda do empresário paulistano Laércio Cosentino, fundador e controlador da empresa de software de gestão Totvs. Por comandar uma companhia integrante do chamado Novo Mercado, da Bolsa de Valores de São Paulo, ele terá de optar em permanecer como CEO, cuidando do dia a dia da operação, ou ficar apenas no posto de presidente do Conselho de Administração, pensando nas estratégias de longo prazo. Assim como Cosentino, pelo menos 22 outros empresários vão ter de enfrentar esse dilema nos próximos meses. É que a partir de 1º de maio de 2014, o acúmulo desses cargos, como acontece hoje, não será mais permitido para as empresas listadas no segmento de mais alto nível de governança da bolsa paulista.
“Estou preparado para abrir mão de uma dessas funções”, diz
Cosentino. “Minha decisão será técnica e baseada no maior ganho possível
para a empresa.” Apesar de representar um universo relativamente
pequeno, de aproximadamente 20% das 127 companhias que compõem o Novo
Mercado, os consultores de carreira e headhunters ouvidos por DINHEIRO
acreditam que esse contingente de novas contratações à vista representa
um volume grande o suficiente para dar uma sacudida no já aquecido
mercado de recrutamento de executivos.
Nesse universo, existem empresas de todos os setores da economia
brasileira, como a tecelagem Coteminas, do empresário Josué Gomes da
Silva, a locadora de carros Localiza, comandada por Salim Mattar, e a
varejista Marisa, presidida por Marcio Goldfarb, que já anunciou que irá
para o Conselho de Administração.
O setor com mais empresas que precisam se adaptar às novas normas é
o de construção. Cyrela, LPS, MRV, Tecnica, Even, Direcional e Helbor
terão de realizar mudanças em suas estruturas de gestão. Os salários dos
candidatos a vagas no primeiro time nessas companhias podem chegar até a
R$ 5 milhões, por ano, valor que inclui bônus e benefícios. Na média, o
ganho em empresas de grande porte do País estão em R$ 2 milhões
(Confira no quadro "Temos vagas", as 23 vagas mais disputadas do
momento). Mas a mudança obrigatória das empresas listadas no Novo
Mercado não é a única razão que deve movimentar a temporada de caça aos
talentos nas corporações. Nos próximos meses, o comando de duas grandes
empresas brasileiras terá de mudar em razão da aposentadoria compulsória
de CEOs que completam 60 anos, a idade máxima para permanecer no cargo,
segundo as regras dessas companhias.
Neste grupo estão José Antonio Fay, presidente da BRF, união da
Perdigão com a Sadia, e Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco. O
primeiro rompe essa barreira em 15 de novembro, enquanto o outro chega à
expulsória em outubro de 2014. Além disso, o ritmo de fusões e
aquisições, que teve 770 transações no ano passado, segundo pesquisa da
PwC, deve seguir acelerado no Brasil. O banco BTG Pactual aposta em um
incremento de 40% em 2013. Em boa medida por conta da ação dos fundos de
private equity. “Quando eles assumem um negócio familiar, a primeira
providência é trocar o presidente e o diretor-financeiro”, afirma
Marcelo de Lucca, presidente da subsidiária da Page Executive, divisão
de negócios de recrutamento de executivos do alto escalão da consultoria
inglesa Page Group.
“Com a expectativa de aquecimento da economia, a movimentação deve ser ainda maior em 2013.” Quem
deixar a seleção para a última hora pode enfrentar dificuldades para
encontrar o candidato ideal. Um processo seletivo dessa natureza pode
levar até cinco meses, entre o primeiro contato com o profissional e o
dia em que ele ocupa definitivamente a cadeira, estima Lucca,
cuja equipe participou da escolha de 40 executivos do andar de cima no
ano passado. Por conta disso, os especialistas acreditam que boa parte
das movimentações nas empresas que estatutariamente serão obrigadas a
buscar um novo CEO deve chegar ao seu ápice em meados deste ano. “Ainda
não dá para dizer que acendeu o sinal de alerta”, afirma de Lucca. “Mas
quem deixar para o segundo semestre poderá ter sérias dificuldades.”
“VESTIBULINHO” Diante desse quadro, muitos
empresários já estão se mexendo. Esse é o caso do Marfrig, segundo maior
frigorífico do Brasil, com faturamento de R$ 21,9 bilhões. Em novembro
do ano passado, seu controlador, o empresário Marcos Molina, que acumula
os cargos de CEO e presidente do Conselho de Administração, recrutou na
Cargill o executivo Sérgio Rial para comandar a Seara Foods, divisão de
alimentos processados do Marfrig. O posto funcionará como uma espécie
de “vestibulinho” para Rial, que assumirá o lugar de Molina, que ficará
somente no conselho, a partir de janeiro de 2014. A construtora paulista
Helbor, cuja ações foram as que mais se valorizaram entre as empresas
do setor imobiliário em 2012, também já pensa no assunto.
O empresário Henrique Borenstein, fundador da companhia, pretende
realizar, em abril, uma reunião de conselho para discutir esse tema.
Nesse caso, a decisão já está tomada e será caseira. Seu filho, Henry,
que hoje é vice-presidente-executivo, vai ser sacramentado como CEO
(saiba mais ao final da reportagem). A prata da casa pode ser uma
solução na transição de comando das empresas que estão no Novo Mercado.
“Temos um plano de sucessão para cada cargo de liderança dentro da
companhia”, afirma Fernando Antonio Simões, presidente e controlador da
empresa de logística JSL, que também não decidiu ainda se optará em
ficar como CEO ou na presidência do Conselho de Administração.
O fato é que essa estratégia tem forte apelo nas empresas do
continente. “Em 90% dos casos, as empresas preenchem suas vagas com o
pessoal interno”, afirma Glaucy Bocci, responsável pela área de
liderança e talento da consultoria de gestão americana Hay Group na
América Latina, amparado em pesquisas da empresa. Esse expediente,
porém, não funciona com uma receita de bolo, que pode ser replicada em
todas as situações. “Quando o DNA do fundador e de seus herdeiros está
muito impregnado na gestão, um executivo da casa pode ter dificuldades
em se impor como um verdadeiro CEO”, diz Alexandre Fialho, presidente
para a América Latina da Korn/Ferry Consulting.
Mas, antes de definir um sucessor, os empresários que comandam as
empresas do Novo Mercado que ainda não se enquadraram nas novas regras
terão que definir que papel eles próprios terão na organização. Nos
Estados Unidos, o acúmulo das funções de presidente-executivo e
presidente do conselho é visto como sinal de prestígio, pois ajuda a
acelerar a implementação das decisões estratégicas. A diferença é que
nos EUA boa parte das companhias de capital aberto não possui um
controlador. Situação bem distinta da brasileira, em que as empresas com
capital pulverizado são uma exceção. “No Brasil, escolher um
profissional de fora para uma dessas posições representa um passo
importante em direção à profissionalização da gestão”, diz Fialho.
Mesmo nas companhias em que a discussão sobre o aprofundamento dos
mecanismos de governança corporativa ocupa um lugar de destaque, como é o
caso da Totvs, seu controlador diz que ainda não tem uma posição clara
sobre qual caminho seguir. “Não teria qualquer problema em permanecer
apenas na direção do conselho”, afirma Cosentino. Se essa for a decisão,
ele diz que adotará o receituário indicado nesses casos. “O certo é
ficar bem longe do dia a dia, para não inibir a atuação do responsável
pela gestão.” Se você que está lendo essa reportagem quer mudar de
emprego, a chance é agora. Tire seu melhor terno do armário e mostre o
seu talento para os headhunters.
Solução caseira
Nomear parentes para cargos de direção e do conselho ainda é prática comum no Brasil
Uma característica do capitalismo brasileiro é o fato de que uma
parte expressiva das grandes empresas é controlada por grupos
familiares. Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos e na Europa.
Por aqui, até mesmo aquelas que integram o Novo Mercado da Bovespa,
cujas exigências de governança corporativa são mais elevadas, são
geridas pelos fundadores e seus descendentes. É o caso do frigorífico
goiano JBS. Nele, quem cuida das estratégias é Joesley Batista, que
ocupa a presidência do Conselho de Administração, enquanto seu irmão
Wesley toca o dia a dia dos negócios, como CEO.
“Quando essas empresas abriram o capital, os investidores já sabiam
da existência de pessoas com o mesmo sobrenome nos cargos de direção”,
diz o consultor Alexandre Fialho, presidente para a América Latina da
Korn/Ferry Talent. “Isso, por si só, não queima a imagem delas no
mercado.” Diante disso, os consultores não descartam a possibilidade de
que parte das 23 companhias (veja quadro "Temos vagas"), que ainda não
se adequaram ao regulamento do Novo Mercado, que proíbe que o mesmo
executivo acumule a chefia do conselho e a presidência executiva, sigam o
exemplo da JBS, colocando familiares diferentes no comando executivo e
no conselho de administração.
Nos estatutos do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
(IBGC) não existe nenhum artigo que impeça essa prática. Mas, na visão
de Carlos Eduardo Lessa Brandão, coordenador do IBGC, a nomeação de
parentes deveria ser evitada. “Não é o melhor caminho”, afirma Brandão.
“Mas se eles conseguem separar os interesses familiares dos da empresa,
não vejo qualquer problema.” Para Brandão, a boa prática de governança,
por si só, não define o sucesso ou o fracasso de um empreendimento. De
acordo com as regras do IBGC, existe apenas a recomendação de que o
executivo que ocupa o cargo de presidente não participe das reuniões do
conselho.
Fonte: Istoé Dinheiro
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