Em alta no mercado editorial, o segmento de coffee table books, livros que exploram a estética da alta gastronomia, ganha seu representante brasileiro pela inventividade do chef carioca Felipe Bronze.
Andoni Aduriz, do Mugaritz (Espanha), Grant Achatz, do Alinea, e Thomas
Keller, do The French Laundry (ambos nos EUA) são alguns dos chefs que
editaram receitas e expuseram os bastidores das suas cozinhas em livros.
Além deles, o físico Nathan Myhrvold lançou o Modernist cuisine, com
fotos deslumbrantes, daquelas de senfeitar paredes, em que explica os
segredos do cozimento de alguns ingredientes. “Em todos os livros sobre a
cozinha modernista, como os de Ferran Adrià, Heston Blumenthal e
outros, a ciência é uma força de inspiração e uma ferramenta, mas usada
de um modo para se expressar artisticamente”, afirma Myhrvold.
Em parceria com o fotógrafo Sérgio Coimbra, vencedor do concurso
parisiense Festival Internacional de La Photographie Culinaire 2012, Bronze
passou três meses cozinhando e fotografando, em jornadas de até 16
horas diárias. O resultado estético impressiona realmente.
“Muitas pessoas já me falaram que pensam em imprimir aquelas fotos na
versão de quadro”, diz o chef. “Quem sabe até não faremos uma exposição
em breve?” O livro teve curadoria de arte de Vanda Klabin, que comparou a
técnica de Felipe com a de um pintor. “Nas suas criações, os elementos
se associam, se interpenetram, produzem incessantemente novas figurações
em deslocamentos contínuos, como na pintura”, diz ela.
Vale dizer que tudo o que foi fotografado era comestível. Daí, o
frisson no estúdio era grande para o término das sessões de fotos,
recorda Bronze. “Todo mundo não via a hora do ensaio fotográfico acabar
para experimentar os pratos.” À frente do restaurante Oro, no Rio de
Janeiro, Bronze comanda também um quadro no dominical Fantástico, “O
Mago da Cozinha”, na Rede Globo, onde revisita clássicos da cozinha
brasileira com técnicas da badalada cozinha molecular. No ar, ele
transforma a tradicional moqueca de camarão à baiana em um prato
moderno, repleto de espumas e ingredientes que mais lembram uma fórmula
científica. A inventividade nas panelas ganhou elogios de um mestre,
dono de três estrelas do Guia Michelin: o francês Daniel Boulud, chef
dos restaurantes Daniel, DBGB Kitchen&Bar e Café Boulud, todos em
Nova York.
“A cozinha de Felipe Bronze é leve, convidativa, descomplicada e
visualmente arrebatadora”, afirmou Boulud. As iguarias exibidas na obra
do brasileiro (que não têm nenhuma receita, diga-se de passagem) levam
uma pitada da alma carioca de Bronze, como o “Fla X Flu” (galinha
caipira glaçada em tinta de lula, pesto de rúcula, tomate acidulado, pó
de miniarroz tostado e cogumelos) e “Estação Primeira de Mangueira”
(algodão-doce verde e nitromanga com espuma de maracujá). Avesso a
modismos, o chef não gosta de ser rotulado por tendências gastronômicas.
“Não acho que faço cozinha molecular, faço cozinha brasileira”, afirma.
“Técnicas como as utilizadas na gastronomia molecular são apenas um
meio para chegar ao resultado, e não um fim.”
Fonte: Istoé Dinheiro
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