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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os pequenos vêm aí


Passada a fase dos grandes IPOs, empresas de menor porte preparam-se para captar dinheiro na bolsa

Acostumado às emissões bilionárias de ações, como as da Cielo (ex-Visanet) e do Banco Santander Brasil, o investidor brasileiro deve começar a se preparar para outro tipo de movimentação no mercado de capitais. A exemplo da Direcional Engenharia, que levantou R$ 250 milhões em sua oferta inicial de ações (IPO na sigla em inglês) e que estreou na BM&FBovespa no último dia 19, uma leva de ofertas de pequeno e médio porte é esperada para os próximos anos no Brasil. Nomes desconhecidos como Alog, Galena e Mastersaf (veja tabela na pág. 114) podem entrar no vocabulário dos investidores em ações. É natural que isso aconteça, diz o presidente da bolsa, Edemir Pinto. "Na Bolsa de Nova York e na Nasdaq, que têm mais de quatro mil empresas listadas cada uma, os IPOs ficam na casa dos US$ 150 milhões, em média", afirma o executivo. "Aqui não tem por que ser muito diferente."

Passado o pior da crise financeira, empresas que adiaram os planos de aumentar o seu capital com uma oferta inicial de ações começam a se reorganizar para isso, seja no segmento de acesso, o Bovespa Mais, seja no Novo Mercado, o mais alto nível de governança corporativa. Uma delas é a Alog, criada em 2000 no Rio de Janeiro para atuar no setor de tecnologia de informação. O IPO deve sair no ano que vem, de acordo com o diretor financeiro, Emanuel Dutra. "A nossa oferta deve ficar abaixo de R$ 200 milhões", disse ele à DINHEIRO.

No momento, a companhia, que tem 320 funcionários e deve fechar o ano com faturamento de cerca de R$ 82 milhões, está em processo de seleção dos bancos que coordenarão a operação. "A oferta de ações faz mais diferença nas menores empresas. Eu tenho certeza de que, no longo prazo, as captações serão de empresas médias, como acontece hoje nos Estados Unidos e na Europa", afirma.

Para o mercado brasileiro se desenvolver e chegar aos cinco milhões de investidores individuais, como pretende a bolsa até 2015 (hoje são 550 mil), muitos empresários de menor porte também terão de soar a campainha simbólica do pregão na rua XV de Novembro, no centro de São Paulo.

O principal desafio da bolsa e dos bancos de investimento que assessoram as companhias a abrir capital é convencer essa leva de pequenos investidores de que também vale a pena investir nas novatas. Será que vale mesmo? Em princípio, o risco dessas aplicações é maior, pois elas tendem a oferecer alta volatilidade e baixa liquidez. A maioria das companhias que estrearam na bolsa desde 2002 teve valorização média inferior à do Ibovespa, o que assusta investidores menos afeitos aos riscos das ações.

Não é à toa que o grosso do movimento da bolsa é concentrado em poucos papéis, como Petrobras, Vale, Bradesco e Itaú Unibanco, mais conhecidos dos investidores e dos analistas. Romper esse status quo é um desafio digno de Hércules, dizem os pequenos empresários. "O mercado ainda é muito dependente das blue chips", afirma o presidente da Mastersaf, Cláudio Coli.

A empresa paulista atua na área de tecnologia da informação e tem planos de ingressar na bolsa nos próximos dois ou três anos. Terá muito trabalho pela frente. Embora tenha se apresentado a investidores no âmbito do programa Bovespa Mais, criado para permitir o acesso mais lento ao mercado, a Mastersaf ainda não divulga dados de suas operações ao grande público. Sem transparência, não se conquista a confiança de ninguém. Exceto, claro, a dos investidores especulativos e pioneiros, como os fundos de private equity, que têm acesso privilegiado aos dados dessas companhias nas apresentações fechadas (road shows).

Para o diretor-geral do Instituto Nacional de Investidores (INI), Théo Rodrigues, num primeiro momento, os papéis das novas companhias deverão ficar nas mãos de fundos e investidores institucionais, que têm melhores condições de se proteger dos riscos de alocar capital em uma empresa em fase de crescimento.

O pequeno tamanho das emissões iniciais inibe a massificação. "Não haveria volume suficiente para ter dispersão da base acionária", avalia Rodrigues. Nessa fase inicial, os investidores estrangeiros devem garantir a estreia das novatas. O apetite continua grande. "O Brasil tem fundamentos sólidos. O povo de fora se anima com o nosso país", diz o presidente da empresa de cosméticos Galena, Ranan Katiz, de Campinas (SP), que também está na fila dos IPOs. Até outubro, os estrangeiros investiram R$ 32,9 bilhões líquidos (compras menos vendas) na Bovespa.

A demanda forte é mais um incentivo para quem quer vender ações, já que os preços tendem a ser maiores. Como a oferta de papéis ainda é pequena, os banqueiros de investimento estão correndo atrás de novos candidatos. Somente 433 companhias são listadas na BM&FBovespa. "Em comparação com o mercado mundial, ainda há poucas opções no Brasil. Há empresas muito boas que não têm ações em bolsa", diz Charles Aboulafia, sócio da Ca Invest, consultoria que atualmente auxilia três empresas neste processo.

A entrada da Galena na bolsa paulista, possivelmente no Bovespa Mais, deverá ficar entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões. Por conta das incertezas que ainda vigoram no mercado, deverá ocorrer entre 2012 e 2013. Outra empresa que prepara seu IPO é a Senior Solution, de São Paulo, da área de TI. O presidente Bernardo Gomes quer estrear no pregão até 2011. Seu discurso é que o retorno oferecido ao investidor pelas empresas médias é muito maior. "A tendência é que seja superior ao das blue chips", diz ele. Em cinco anos sua empresa multiplicou as receitas em seis vezes, para R$ 30 milhões.

A Direcional Engenharia, empresa mineira que atua na construção civil, especialmente em casas populares, já passou desta fase e fez a lição de casa necessária para ir a mercado. Seus dados são públicos e a política de governança corporativa é bem definida. "O mais importante nisso tudo é perpetuar o negócio", disse o engenheiro Ricardo Valadares Gontijo, fundador da empresa, ao presidente do banco Santander Brasil, Fabio Barbosa, na cerimônia de abertura do pregão inaugural.

Fonte: IstoÉ Dinheiro

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