A crise que afetou a economia mundial no final do ano passado deixou vários segmentos do mercado abalados com o impacto causado aos negócios. Este ano, seus reflexos impuseram alguns ajustes setoriais na economia brasileira, colocando em teste o sustento de grandes companhias e causando mudanças, principalmente quanto ao planejamento estratégico para os próximos anos.
O Ibramerc buscou grandes empresas de diferentes segmentos, a fim de saber como a crise as afetou e como elas estão se planejando neste final de ano para entrar em 2010 com o “pé direito”. Setores como agronegócio, construção civil, tecnologia da informação, cosméticos e a indústria farmacêutica foram ouvidos e mostraram opiniões divergentes quanto às expectativas para 2010.
Crise mundial para os setores
Entretanto, isso acontece, pois apenas alguns setores foram realmente atingidos. A indústria farmacêutica, por exemplo, é tradicionalmente a mais resistente às tempestades econômicas. “A crise praticamente não afetou em nada o nosso negócio. Nós mantivemos os investimentos que tínhamos e conseguimos cumprir praticamente tudo que estava planejado para este ano”, diz Paulo Reis, gerente de Inteligência de Mercado da Wyeth Indústria Farmacêutica.
Já para o agronegócio, a turbulência refletiu apenas no primeiro semestre deste ano que, segundo a consultoria Lafis, foi marcado pela queda dos preços dos principais produtos agrícolas e da quebra da safra motivada pelas estiagens nas principais regiões produtoras. “Os lucros foram reduzidos um pouco este ano porque os preços das commodities baixaram com a crise. Eles estavam muito inflados”, conta Antônio Luis Jamas, gerente de Inteligência de Mercado da Bayer CropScience.
Para a construção civil, um dos setores mais afetados, 2009 foi ano de recuperação. “Infelizmente, no final do ano passado, percebemos que o mercado estava muito inseguro, e acabamos fazendo alguns cortes, nos adaptando antecipadamente. Quando percebemos a retomada no começo de 2009, lançamos o maior empreendimento deste ano em São Paulo”, diz Steve Matalon, diretor da Construtora e Incorporadora MAC.
Segundo a consultoria Lafis, o primeiro semestre de 2009 respondeu positivamente e seu crescimento foi fundamental para a retomada dos investimentos e de postos de trabalho extintos no último trimestre de 2008 e primeiro de 2009.
Planejamento para 2010
A partir desse cenário, as empresas se preparam para enfrentar 2010 adequando o planejamento estratégico de acordo com as previsões de mercado. Mas como essas empresas estão se preparando? Quais são as principais prioridades para uma época de incertezas. O mercado ainda está incerto?
Algumas das empresas ouvidas acreditam que 2010 deverá ser um ano de sucesso, já outras afirmam ter que “pisar no freio” e começar o ano sendo conservadoras.
O setor de cosméticos, por exemplo, não tem do que reclamar, já que a demanda cresce a cada dia. “Acredito que o ano de 2010 é um ano que tem muito a acontecer, tem muito mercado para ser explorado como o capilar, o mercado de tratamento, de maquiagens e muitos outros”, diz Antônio Celso da Silva, diretor Industrial da Payot Cosméticos. Ele ainda reforça que a empresa acredita que o Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país são regiões com forte potencial para serem exploradas e isso também faz parte do planejamento da empresa.
Assim como a Payot, a MGI (Máster Global Informática) vai investir fortemente em 2010. O planejamento da empresa gira em torno da expansão do mercado e da conquista de novos clientes. “A MGI trabalhou exclusivamente com produtos HP durante muitos anos, mas por uma necessidade de mercado e pela diversificação da tecnologia entendemos que deveríamos abrir o portfólio de produtos pra poder continuar atendendo os nossos clientes”, conta Roberto Lechuga, gerente de Marketing da empresa. Ele reforça ainda que a MGI deve lançar em 2010 um programa de canais, uma idéia que aproxima tanto as revendas de TI quanto revendas de Telecom com os desenvolvedores de software e, conseqüentemente, tornando-se um grande provedor de mobilidade no mercado.
Na construção civil, segundo a consultoria Lafis, as perspectivas para 2010 são boas, pois espera-se que, com o deslanchar do programa habitacional e as novas obras do PAC, o PIB da Construção cresça cerca de 5,2% em relação a 2009. Porém, apesar das boas expectativas, Steve Matalon da MAC acredita que a empresa deve investir em 2010 mantendo sempre o “pé no chão”. “A nossa estratégia é lançar, vender, lançar, vender. Se não vende, nós diminuímos um pouco este processo. Fazemos uma administração financeira muito conservadora e não queremos expor além do que estabelecemos como nosso limite”, diz o diretor.
A indústria farmacêutica também tem motivos para não temer novos investimentos. A consultoria Lafis acredita que o resultado das vendas totais no primeiro semestre de 2009 revela que o setor tem angariado crescimento e deve mantê-lo para os próximos anos, e é por isso que as empresas vão continuar acreditando no mercado. “Nós vamos apostar nos países emergentes e o Brasil é uma prioridade da empresa. Vamos buscar estar entre os grandes laboratórios OTC [medicamentos de venda livre] nos próximos 3 anos. Para 2010 está previsto grandes investimentos, buscando alavancar o nosso volume de vendas”, revela Paulo Reis da Wyeth.
Para o agronegócio, 2010 poderá ser um ano de reversão. É o que a Lafis espera com a volta da demanda internacional que deverá atuar na reposição dos estoques e do consumo, totalizando a previsão do faturamento em alta de 12,8%. Mas algumas empresas devem manter os baixos investimentos pela insegurança que a economia ainda oferece, pois na chegada de outra crise, o mercado deixa as commodities de lado, preferindo investir em outros segmentos deixando o agronegócio enfraquecido. “As empresas do setor estão reduzindo custo. Tem muita gente fazendo reengenharia interna na tentativa de reduzir custos para aumentar a competitividade e estão tentando entrar no ano que vem com a maior cautela possível”, conta Antônio Luis Jamas.
Partindo de uma visão geral do mercado, a consultoria Lafis acredita que um desempenho mais robusto da economia brasileira para 2010 pode ser facilitado pelo aspecto de recuperação, tendo em vista a base fraca instaurada no ano anterior. No entanto, se as perspectivas de crescimento global não sejam adequadas, o patamar de desenvolvimento econômico interno pode ser inferior ao esperado.
Assim, antecipando as previsões, em 2011, para a Lafis o cenário interno torna-se ainda mais importante, à medida que as economias desenvolvidas devem apresentar dinamismo suficiente para consolidar um novo ciclo de expansão econômica global, recuperando sua importante responsabilidade dinâmica.
Ouça a entrevista na íntegra com Roberto Lechuga, gerente de Marketing da MGI.
Ouça a entrevista na íntegra com Steve Matalon, diretor de Gestão da Construtora e Incorporadora MAC.
Ouça a entrevista na íntegra com Antônio Celso da Silva, diretor Industrial da Payot Cosméticos
Fonte: ibramerc.org.br
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