“Teremos uma nova rodada de inovação e empreendedorismo no Brasil nos próximos dois a três anos”
“Andamos estudando esse negócio de crise. E resolvemos aqui no BuscaPé que vamos ficar de fora!” A frase, escrita em uma faixa com letras enormes, dá o tom do ânimo na empresa de Romero Rodrigues. A BuscaPé, fundada há dez anos por quatro amigos pouco antes do estouro da bolha da internet, não só ignorou a crise econômica do ano passado como decretou em 2009 o fim da longa ressaca no setor de tecnologia do Brasil. Em setembro, a Naspers, maior grupo de mídia da África do Sul, comprou 91% da companhia por R$ 600 milhões. Foi o terceiro maior negócio da história da web no País e o maior desde 2000. Poderia ser a realização de um sonho para um jovem engenheiro de 32 anos que investiu R$ 100 num site de comparação de preços e hoje comanda um grupo de nove empresas e 62 milhões de usuários por mês. Mas para Rodrigues, eleito pela DINHEIRO o Emprendedor do Ano na Tecnologia, este é apenas o começo de uma nova fase de sucesso. E muito trabalho.
Depois de conquistar a liderança do negócio no Brasil, o presidente do BuscaPé quer fazer o mesmo em toda a América Latina e não para um minuto de pensar em como chegar lá. O espírito empreendedor domina totalmente seu dia a dia desde que montou uma empresa de garagem com os amigos da Poli – o celeiro de engenheiros da Universidade de São Paulo – e mergulhou de cabeça na nova fronteira dos negócios globais, a internet. “Gosto de trabalhar e empreender. Investi tudo na empresa e não me vejo fazendo outra coisa”, afirma Rodrigues. Enquanto três dos sócios originais remanescentes atuam somente como conselheiros da companhia, ele permanece como principal executivo de um time de 350 pessoas. Bastam dois minutos de conversa para entender o porquê.
Exceto pela pouca idade, ele não tem nada que caracteriza os típicos nerds que ficaram milionários com a internet e, por falta de talento para administrar um negócio e fazer gestão de pessoas, escolheram outros caminhos. Com muito gel nos cabelos revoltos e uma metralhadora verbal impressionante, lembra mais um yuppie do mercado financeiro, do tipo que usa mochila, abomina gravata, domina as finanças como poucos, tem muita ambição de crescer e está sempre conectado. Que tipo de pessoa carrega um BlackBerry e um iPhone ao mesmo tempo? Mas não se engane: Rodrigues vai muito além desse estereótipo fácil. É um empresário de mão cheia, com visão de longo prazo, e justifica pelo que já construiu o reconhecimento como Emprendedor do Ano na Tecnologia.
O sucesso do BuscaPé segue a trajetória clássica de quem se deu bem no mundo dos negócios, inclusive virtuais. Alguns garotos de 20 anos de idade se juntaram para montar uma empresa ligada à tecnologia da informação. Transformaram a dificuldade de comprar uma simples impressora pela internet num negócio inovador, um site de comparação de preços, útil tanto para os consumidores como para os comerciantes. Enfrentaram todas as adversidades inerentes aos empreendedores e não sucumbiram diante de desafios aparentemente intransponíveis, principalmente o estrondoso estouro da bolha da internet em 2000, dois anos depois da fundação do BuscaPé. Nesse ambiente, perseverança é fundamental. E isso Rodrigues tem de sobra, atesta o amigo Aleksander Mandic, pioneiro empreendedor da internet no Brasil. “O Romero está sempre entusiasmado e isso é um fator de sucesso importante. Muitos dos meus negócios só foram adiante porque eu não desisti”, diz Mandic.
Otimismo e perseverança são imprescindíveis, mas não bastam para se tornar um vencedor. É preciso talento para criar, manter o negócio de pé e superar os concorrentes. De preferência, comprálos ao longo do caminho. O Empreendedor do Ano na tecnologia fez tudo isso. “O sucesso depende da capacidade de encontrar um nicho e tomar posse dele, de desenvolver um serviço inovador e manter a aposta, mesmo quando as demais referências vão mal”, define o consultor Daniel Domeneghetti, da e-consulting. Seguidor da máxima do filósofo Nietzche (“Aquilo que não me destrói, fortalece-me”), Rodrigues foi além. Conquistou investidores externos, como o banco de investimentos americano Merrill Lynch, e ampliou o escopo original do negócio para participar com diversas marcas de todo o ciclo de compra dos consumidores, como Lomadee, PistaCerta, cortacontas, Pagamento digital e ebit. Hoje, o BuscaPé é uma das dez maiores empresas de internet do mundo em audiência. Daí o interesse da Naspers, um investidor estratégico, em comprar 91% da companhia.
“Gosto de trabalhar e empreender. Investi tudo na empresa e não me vejo fazendo outra coisa”
A Naspers adquiriu a parte do fundo Great Hill Partners e as de cinco sócios minoritários. Dos fundadores, somente Romero Rodrigues, Rodrigo Borges e Ronaldo Takahashi seguem como acionistas. Junto com Rodrigo Guarino (fundador do exconcorrente Bondfaro, adquirido há três anos), os quatro detêm cerca de 9% da empresa. Mesmo minoritário, o presidente continuará à frente do BuscaPé, comandando sua expansão pela América Latina. “Tenho muita liberdade para tocar o negócio”, diz ele. Abrir o capital e lançar ações em bolsa não está nos seus planos imediatos. “Não temos necessidade de buscar capital na bolsa.
“Vamos nos expandir na América Latina. Tem dois Brasis e meio lá fora e as oportunidades são imensas”
Num mercado em crescimento e competitivo como o nosso, é uma grande vantagem competitiva não precisar abrir os números da empresa”, justifica. A expansão das marcas já está sendo acelerada no México, na Colômbia, no Peru, na Argentina e no Chile. “Tem dois Brasis e meio lá fora e as oportunidades de crescimento são imensas”, vislumbra. Rodrigues prevê um novo ciclo de inovação e empreendedorismo no Brasil nos próximos dois a três anos, já que o mercado finalmente destravou. Em parte, diga-se, graças ao seu próprio sucesso. “Outros empreendedores estão sendo estimulados pelo exemplo do Romero e isso é muito bom para o País”, diz Mandic.
Fonte: IstoÉ Dinheiro
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