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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O azar de Las Vegas

Hotéis em decadência, construções paradas e apostas em baixa. A sorte parece ter abandonado a cidade mais extravagante dos Estados Unidos

Shutterstock

À medida que a noite cai, as luzes da avenida Strip começam a se acender. Um aglomerado de turistas se forma em frente à imponente Torre Eiffel, do hotel Paris. Do outro lado da rua, o balé da fonte do Bellagio faz os curiosos estacionarem em intervalos de dez minutos. À primeira vista, uma noite como outra qualquer em Las Vegas. Mas para quem faz parte dos bastidores desse espetáculo, os dias de glória ficaram para trás. Las Vegas foi uma das cidades dos EUA que mais sofreram com a recessão. Em uma crise, o lazer é sempre o primeiro item a ser cortado. É assim no Brasil, na Itália ou em Gana.

A iugoslava Pamela exibe seu microvestido na pista de dança da casa noturna The Bank. Em outras épocas, a garota de programa não precisava sair à caça dos homens afortunados. "Eles é que costumavam vir atrás de mim", conta. Las Vegas é conhecida não só pelo exagero de seus edifícios, mas também por atrair homens com poder e dinheiro. E em ambientes assim, a indústria do sexo é tão forte quanto a jogatina nos cassinos. Na porta do hotel, o turco Marshell Khan aguarda em seu táxi a chegada de passageiros. E conta à DINHEIRO que, após perder sua casa, por não conseguir quitar as parcelas, teve de dobrar o turno para sustentar seus três filhos e a mulher grávida. Já a brasileira Carmen Silva, que mora na cidade há nove anos, viu seu salário como garçonete de eventos despencar de US$ 200 mil para US$ 100 mil ao ano. A história dos três estrangeiros faz parte da nova realidade de Las Vegas. Depois de deter o título de cidade com o mais rápido crescimento dos EUA por duas décadas, Vegas coleciona agora uma sequência de índices negativos. Hoje é recordista no número de estabelecimentos fechados por metro quadrado. Sua taxa de desemprego saltou de 3,8% para 12,3% em apenas três anos.

Apesar da recessão, o movimento nas ruas segue em alta. As mesas dos cassinos estão abarrotadas. Por trás das aparências, uma estratégia agressiva de corte de preços. Para aumentar as taxas de ocupação, que agora não ultrapassam os 72%, os hotéis reduziram o valor das diárias. Suítes de luxo do Wynn, que custavam U$ 500 um ano atrás, agora podem ser encontradas por US$ 109, com direito a um bônus em serviços de US$ 50. No hotel cinco-estrelas Trump, é possível reservar quartos por US$ 128. Decadência pior enfrenta o Circus. O espaço que já foi um dos mais badalados da principal avenida da cidade ostenta uma placa com a promoção de US$ 22 a noite. "O nível social dos turistas também caiu. Prova disso é o valor das gorjetas", conta à DINHEIRO Carmem, que já chegou a ganhar US$ 400 em retribuição a um comprimido de dor de cabeça.

Do lado de fora dos cassinos, um outro paradoxo. Imponentes gruas por todos os lados poderiam indicar um espetáculo do crescimento. Na realidade, significam planos de expansão que passaram a andar a passos de tartaruga em razão da atual situação financeira. O Mandarin, novo complexo comercial, será inaugurado no final do ano com pelo menos seis meses de atraso. Outras construções simplesmente ficaram abandonadas. Por falta de pagamento de hipoteca, o Cosmopolitan Hotel foi parar nas mãos do Deutsche Bank. O banco procura agora um comprador - o imóvel está avaliado em US$ 3,9 bilhões. Qualquer um que já frequentou uma mesa de pôquer sabe que, para um perdedor, a próxima jogada poderá ser a da grande virada.

Fonte: IstoÉ Dinheiro

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