Neste artigo é discuitido o papel das novas ferramentas de gestão e,
principalmente, o Design Thinking como instrumento para o
desenvolvimento de inovações nas organizações.
A gestão empresarial vive intoxicada com novas ferramentas e muitas
delas sugerem ser as panacéias para todos os males organizacionais.
Algumas novidades chegam causando um forte impacto na mídia e na
academia e depois de algum tempo desaparecem como se não tivessem
existido. Fernando Prestes Motta escreveu um interessante artigo com o
título "Antropofagia Organizacional" em que ironiza a assimilação dos
países periféricos das novidades produzidas em Harvard e congêneres.
Motta mostra que a nossa vocação colonial ainda está presente na
academia e tudo que é produzido na "matriz" é definitivo e deve ser
aplicado nas organizações brasileiras. Interessante é que muitas delas
não são aplicadas nem mesmo no país de origem.
Mas nas últimas décadas não tem sido apenas as inovações e
ferramentas de gestão produzidas em Harvard que tem encantado os
gestores brasileiros. Os japoneses, a partir da emblemática Teoria Z de
Willian Ouchi, enaltecendo o modelo do sol nascente, fizeram chegar até
nós práticas toyotistas como a multifuncionalidade, gestão
participativa, kam bam, Just-in-time, 5S entre outras.
E funcionam? Essa é a pergunta que não quer calar. Em matéria de
gestão todos sabemos que nada é absoluto, nem para sempre. O mundo muda,
a economia caminha num percurso mais de irracionalidade do que
racionalidade, as culturas se transformam, incorporando crenças e
valores exóticos, as pessoas não são estáticas e as organizações são
extremamente vulneráveis às transformações ambientais.
Mais recentemente surgiram novas ferramentas que prometem solucionar
todas as agruras nas quais vivem os administradores. Uma delas, escopo
desta matéria, é o Design Thinking. O nome da ferramenta é desafiador,
provocativo, inovador, intrigante e complexo. Afinal como ensinar as
pessoas a pensarem criativamente? Evidentemente essa é a parte mais
difícil do jogo, pois as pessoas são o resultado de um mundo repleto de
repressões, bloqueios, inibições que deixo para Freud explicar.
O princípio do Design Thinking é utilizar o modus operandus do
Designer, que nada mais é do que um projetista que utiliza a imaginação
criadora para buscar a estética e a viabilidade técnica através do
conhecimento tecnológico de construção e aplicação no desenvolvimento de
máquinas, automóveis, eletrodomésticos e outros produtos de consumo,
duráveis ou não. O arquiteto ao construir casas ou edifícios, também
aplica esse princípio, pois utiliza a imaginação criadora para elaborar
projetos que vão atender os futuros usuários, não apenas no quesito
utilização racional do espaço, circulação, conforto, mas também no que
se refere à estética da construção. O arquiteto Niemeyer, por exemplo,
ao projetar o complexo arquitetônico do Congresso Nacional, buscou em
elementos ideológicos como a supremacia do povo nos estados modernos
para concebê-lo.
Infelizmente esse sonho ficou apenas na sua intenção.
Também o músico, ao criar uma nova composição, utiliza-se do
conhecimento técnico da teoria musical, como a harmonia, ritmo, escalas,
o próprio conhecimento e habilidade em executar um instrumento e a
imaginação criadora, para gerar a melodia. Essa precisa ter um
significado afetivo, simbólico e cultural (elementos ligados à sua
cultura).
Ninguém cria a partir do nada. O designer ou o arquiteto, como os
cientistas também vão pesquisar para descobrir os sonhos e as
necessidades dos usuários para criar coisas que façam sentido para eles,
tanto no plano simbólico – que faça sentido em termos de valores e
crenças - como também no plano prático como conforto, usabilidade,
amigabilidade. Para isso, o instrumento de pesquisa é de natureza
etnográfica, método desenvolvido pelos antropológicos, como Malinovski,
nos estudos de povos de culturas distantes. Essa técnica de pesquisa
envolve a vivência do projetista com os usuários ou consumidores,
conhecendo seus desejos, necessidades, comportamentos, expectativas,
sonhos, valores etc, filmando, conversando, entrevistando, documentando,
resgatando fotografias antigas, cartas, objetos etc.
Outro elemento importante dessa ferramenta é a construção de
protótipos, ou a prototipagem, após o projetista dar asas à
imaginação. Nenhuma idéia é descartada antes da tentativa de sua
modelagem através de protótipos. Os protótipos são testados,
corrigindo-se as possíveis incorreções e ajustados às necessidades dos
usuários ou consumidores, lembrando sempre que o projeto deve estar
voltado para as pessoas, atendendo aos seus sonhos, expectativas e
necessidades funcionais e estéticas. Assim, depois de testado e
comprovado o modelo vai para a linha de produção ou aplicação prática.
Algumas organizações já estão colocando em prática essa ferramenta de
geração de inovações radicais, pois não se busca, através dela, apenas
melhorias nos produtos, mas profundas modificações em termos de
funcionalidade, sustentabilidade e economia. Parece quem nem todas as
"invenções" que chegam do Tio San são condenadas ao esquecimento.
Algumas vingam e esperamos que essa seja uma daquelas que veio para
ficar e contribuir para as empresas se tornarem mais eficientes, gerarem
produtos de melhor qualidade e, sobretudo sustentáveis. Afinal, um
design inteligente deve levar em conta utilização dos recursos sem
perder de vista as próximas gerações.
Fonte:
Administradores