Banco do Brasil inaugura filial nos Estados Unidos, mirando um mercado de 50 milhões de latino-americanos.
Com uma população de 311 milhões de habitantes e um PIB estimado em US$
15,1 trilhões – mais de cinco vezes o brasileiro –, os Estados Unidos
são um objeto de desejo para qualquer empresa. Para o Banco do Brasil, a
maior instituição financeira do País, não seria diferente. O BB, que já
atua no mercado americano mediante filiais desde o fim da década de
1960, resolveu fazer a América de forma ambiciosa. No último dia 15,
inaugurou o Banco do Brasil Americas, uma subsidiária integral nos
Estados Unidos, com três agências na Flórida: Boca Ratón, Coral Gables e
Pompano Beach. “Agora poderemos atuar no mercado americano de massa”,
diz Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente do BB.
Na mira, 1,2 milhão de brasileiros que moram nos Estados Unidos,
250 mil deles na Flórida, e, de quebra, 50 milhões de latino-americanos.
A primeira incursão do BB ao norte do Rio Grande aconteceu em 1969, com
a abertura de sua agência em Nova York, seguida pela de Miami, na
Flórida, inaugurada dez anos depois. No entanto, a nova unidade
representa uma mudança radical na maneira de trabalhar por lá. “Nossas
agências eram subsidiárias de um banco brasileiro, mas o Banco do Brasil
Americas é um banco americano”, diz o CEO Leandro Alves. Pode
parecer um pormenor irrelevante, mas faz toda a diferença. Antes, a
atuação estava restrita a clientes de alta renda. “Era preciso ter, no
mínimo, US$ 250 mil para abrir uma conta, mas agora é possível ser
cliente do Banco do Brasil Americas com pouco dinheiro”, diz o
executivo.
Com isso, o BB poderá usar sua experiência no varejo para atrair
correntistas, brasileiros ou não, nos Estados Unidos. A atuação será
reforçada por uma rede de 50 mil caixas automáticos espalhados pelo
país. “O cliente que mora em outros Estados americanos poderá abrir
contas de maneira virtual”, diz Alves. “Não será necessário vir
fisicamente ao banco.” Mesmo assim, a rede deverá crescer. “Nosso
objetivo é inaugurar 16 agências nos próximos cinco anos e ter 100 mil
clientes até 2020”, diz Caffarelli. A iniciativa na Flórida
servirá, também, para o banco testar algumas ferramentas comuns nos
Estados Unidos, mas que ainda estão em estudo por aqui. Um bom exemplo são os depósitos de cheques.
O cliente que receber um cheque não precisará comparecer à agência
para depositá-lo: será possível fotografá-lo com o telefone celular e
enviar a imagem pela internet, processo conhecido como trunking. No
Brasil, o trunking já está sendo usado, mas sua aplicação restringe-se
às agências bancárias muito distantes dos centros de compensação, para
tornar mais ágeis os pagamentos. A estratégia está apoiada em uma
vantagem comparativa que nenhuma outra instituição financeira americana
possui, que é o conhecimento da freguesia. Para um banco americano, o
brasileiro que se estabelece na Flórida, em Nova Jersey ou em Boston é
um ilustre desconhecido.
Para o BB, pode ser um cliente com histórico de crédito. Isso
permitirá um conhecimento melhor na hora de conceder empréstimos, por
exemplo. “Podemos usar o patrimônio do cliente no Brasil para avaliar
seu perfil de risco”, diz Alves. Além de produtos tradicionais como
contas-correntes, contas-poupança e cartões de crédito e de débito,
ainda neste ano serão lançadas as primeiras hipotecas. O Banco do Brasil
Americas alinha-se às demais iniciativas de internacionalização do BB,
presente em 23 países, mas no varejo apenas no Japão e na Argentina. As
próximas iniciativas terão como palco de operações a América Latina.
“Estamos analisando bancos para comprar na Colômbia e no Peru”, diz
Caffarelli.
Enquanto isso...
A Pimco, maior gestora de renda fixa dos Estados Unidos, prepara seu desembarque no Brasil
Pacific Investment Management Company, ou, abreviadamente, Pimco.
Não se surpreenda se você nunca ouviu falar dela. A maior gestora de
fundos de renda fixa dos Estados Unidos administra US$ 1,4 trilhão – 50%
mais que os US$ 950 bilhões geridos por todas as empresas do setor no
Brasil – mas é pouco conhecida por aqui. No entanto, isso vai mudar no
fim deste ano. A Pimco, fundada em 1971 pelo gestor Bill Gross, deverá
inaugurar um escritório no Rio de Janeiro para disputar o mercado de
renda fixa brasileiro, uma de suas especialidades. A Pimco já investe no Brasil há tempos.
O respeitado economista de origem egípcia Mohamed El-Erian,
que divide com Gross a formulação das estratégias de investimento,
chegou a ser um dos maiores credores do Brasil no início da década
passada. Em 2002, no auge da preocupação dos banqueiros
internacionais com a iminente eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a
Presidência, os mercados estavam fugindo do Brasil em pânico. O dólar
chegou a valer R$ 4, e os títulos da dívida externa chegaram a ser
negociados por metade de seu valor de face. El-Erian fez, então, o que
nenhum de seus concorrentes havia cogitado. “Embarquei em um avião e
passei uma semana no Brasil conversando com economistas e com a cúpula
do PT”, diria ele, anos depois.
O resultado não se fez esperar. “No voo de volta para a Califórnia,
abri meu laptop e comecei a fazer contas”, diz. “Quando estava
sobrevoando o México, já havia me convencido de que o Brasil não ia
quebrar nem dar calote, e que estava diante de uma oportunidade de
ouro.” Mal desembarcou, El-Erian correu para o escritório para defender
sua tese. “Tínhamos US$ 1 bilhão em papéis brasileiros, e dobramos nossa
aposta, entre agosto e outubro de 2002.” Quando os preços se
recuperaram, a Pimco contabilizou um lucro de 40%. Ainda em 2004, ele
previa que o Brasil atingiria seu grau de investimento até 2009, o que
se confirmaria oito meses antes, em abril de 2008.
A capacidade de antecipar esses movimentos consagrou El-Erian, que
passou 15 anos no Fundo Monetário Internacional e, por dois anos, geriu
os recursos da universidade Harvard, como um dos melhores
administradores de fundos de países emergentes. O economista já havia
chamado a atenção do mercado no início do ano 2000, ao vender todos os
papéis argentinos que possuía, um ano antes da desvalorização do peso.
Bola de cristal? Não, uma observação acurada da economia e o uso correto
de ferramentas de análise. “Olhamos para a Argentina e vimos duas
coisas das quais não gostamos”, diz. “A economia não tinha condições de
crescer, e os argentinos estavam mandando seu dinheiro para fora do
país.”
Essa conjunção significava crise à frente, e a decisão foi tirar o
dinheiro de lá o mais rapidamente possível. A Pimco não fornece detalhes
de sua estratégia no Brasil, mas a expectativa do mercado é de que eles
ofereçam produtos que permitam ao investidor apostar também em países
vizinhos, aproveitando as oportunidades na América Latina. Um dos
trunfos é o extenso conhecimento de mercados emergentes. Dos 85 grandes
fundos abertos oferecidos pela companhia, dez são dedicados
exclusivamente a esses investimentos. Um conjunto semelhante é dedicado a
títulos de países desenvolvidos, além dos Estados Unidos.
Fonte: Istoé Dinheiro
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