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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Empreendedorismo no agreste

Polo têxtil da região investe em formalização e profissionalização e vê faturamento crescer

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Nos arredores de Caruaru, a aproximadamente 130 km de Recife, um arranjo produtivo local vem revelando novos caminhos para a indústria de confecções pernambucana. Trata-se do Polo Têxtil do Agreste, área que se estende por 13 municípios do interior do estado, nos quais estão baseados cerca de 5.000 empreendedores. Com atuação em todas as pontas da cadeia de confecção – da produção de etiquetas até a fabricação e acabamento das peças finais –, os empreendedores locais são atualmente responsáveis por 16% da produção de roupas no Brasil.

Na contramão do planejamento que envolve a formação de um APL, a história do Polo do Agreste é marcada pela informalidade. Rota tradicional de caminhoneiros, a região começou a movimentar um comércio informal entre os viajantes no início da década de 80. Entre os produtos negociados estavam retalhos de tecidos que serviam de matéria-prima para a fabricação roupas populares. O material, conhecido como sulanca, impulsionou a formação das grandes feiras de rua, que permanecem até hoje como um tradicional canal de vendas para os fabricantes da região. “O espírito empreendedor sempre foi muito presente entre os pernambucanos, mesmo que muitas vezes ele seja incentivado por necessidade. Queremos lapidar essa atitude em senso de oportunidade e inovação”, diz João Bezerra Filho, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Caruaru (ACIC).

Embora o agreste nordestino conte com mais de 30 anos de atuação de setor têxtil, a rede de negócios local começou a ganhar uma estrutura mais formalizada apenas em 2003. Resultado de uma parceria entre associações comerciais, empresários e entidades como Sebrae e Senai, o projeto é baseado em quatro frentes distintas: promoção de governança corporativa, formalização dos negócios, capacitação de mão de obra e profissionalização dos canais de venda. Além desses quatro pilares, a conscientização sobre investimento em tecnologia e a oferta de produtos com maior valor agregado também desempenharam um papel determinante no desenvolvimento da região. “Os fabricantes passaram a se ver como empresários do mercado de moda. Isso levou ao investimento em tecnologia e à criação de produtos mais valorizados pelo mercado”, afirma Christiane Fiúza, presidente da J&B Consultoria, credenciada pelo Sebrae para apoiar empreendedores do Pólo.

Os resultados podem ser constatados na evolução das vendas. Nos últimos nove anos, o faturamento total das empresas da região saltou de R$ 144 milhões para R$ 240 milhões por mês. A média de empresas formalizadas, por sua vez, aumentou de 8% para 25%. “A colaboração entre as empresas se mostrou fundamental para o crescimento regional. Esse aspecto vem sendo complementado pelo fomento à inovação e por programas de qualificação profissional”, diz Mário Cesar Freitas, gestor do Sebrae Caruaru. Entre os exemplos de transformação, destaca-se o case da Kikorum. Fundada em 1986 como uma produtora de itens básicos de jeans, nos últimos oito anos a empresa se transformou em uma marca com coleções próprias. Do design à lavagem das peças, todo o processo foi automatizado e concentrado dentro da empresa. Atualmente, a fábrica fatura R$ 400 mil por mês, em média. “Investimos em maquinário de ponta para ter um controle melhor sobre a qualidade e o fluxo da produção. Viajamos o mundo inteiro para nos manter atualizados. Esse tipo de pesquisa se tornou o nosso maior diferencial”, diz Nascimento.

Oportunidades e desafios

A evolução dos últimos anos é evidente. Mas o Polo do Agreste ainda encontra uma série de desafios pela frente. A maior parte deles está relacionada à falta de infraestrutura na região e à tradicional informalidade do local. Dos 20 mil fabricantes do local, cerca de 15 mil são tocados de forma marginal às leis tributárias e trabalhistas. “A informalidade é uma questão cultural. As barreiras de entrada para montar uma pequena oficina de confecção em casa são baixas. As pessoas estão acostumas a fazer isso de forma intuitiva. É um comportamento enraizado há décadas”, diz Freitas. Para José Gomes Filho, fundador da Jogoffi, marca local especializada em moda jovem, o problema se estende para a contratação de mão de obra. “Formar e manter equipes é algo bastante difícil por aqui. As pessoas preferem abrir mão de benefícios para iniciar operações familiares e atuar como fornecedores. Isso nos obriga a terceirizar grande parte dos processos.”

Para superar esses obstáculos, além da base teórica oferecida pelos projetos de consultoria e educação empreendedora, algumas frentes de ação práticas foram traçadas. A principal delas é a Rodada de Negócios da Moda Pernambucana. Com 14 edições já realizadas em Caruaru, o evento tem como objetivo atrair compradores de outras regiões do Brasil para o polo. “A prioridade do evento são as vendas. Mas ele também termina servindo como uma oportunidade de integração e aprendizado prático junto a outros mercados”, afirma Almeni Gomes, sócia da Berna Baby, confecção especializada em moda infanto-juvenil.

Um dos principais articuladores do projeto de reestruturação, Freitas conta que as ações combinadas estão baseadas em três objetivos principais: o reconhecimento do estado como criador e produtor de moda contemporânea, estabelecimento de processos de inovação nas empresas e cooperação entre os empreendedores locais. “Os problemas geram oportunidades para quem se propõe a resolvê-los de forma inovadora e criativa. Criar um ecossistema de negócios sólido e mudar comportamentos leva tempo. Estamos começando a observar os primeiros resultados de um projeto a longo prazo. O objetivo é consolidar a região como uma referência na produção de moda internacional.” 

Fonte: PEGN

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