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terça-feira, 1 de novembro de 2011

O Blackberry na encruzilhada

Depois de sofrer com resultados fracos em mercados importantes, e com a maior falha técnica de sua história, a RIM aposta em um novo sistema operacional e nos países emergentes para retomar o bom desempenho.

Os últimos meses não foram fáceis para a canadense Research in Motion (RIM), fabricante do Blackberry, telefone celular que virou ícone dos profissionais de negócios em todo o mundo na segunda metade da década passada. As más notícias começaram em setembro, com a divulgação dos resultados da companhia no segundo trimestre deste ano. O balanço trazia um dado alarmante: em um ano, a receita proveniente dos Estados Unidos, até então seu maior mercado, caíra pela metade, para US$ 1,11 bilhão. A onda de notícias desagradáveis continuou no mês seguinte. Uma falha nos computadores da fabricante deixou milhares de clientes sem receber e-mails por três dias. Pior do que a interrupção do serviço, a maior da história da RIM, foi o fato de seu CEO, Mike Lazaridis, afirmar desconhecer a causa do problema. Para se desculpar, a empresa presenteou os clientes com um crédito de US$ 100 para downloads de aplicativos.
As agruras da RIM vieram em um momento delicado: logo após o lançamento de mais uma versão do seu sistema operacional, o Blackberry 7. É com ele e com o bom desempenho nos países emergentes que a fabricante espera reverter o quadro nebuloso. “Não estamos em crise, estamos saindo dela”, afirmou à DINHEIRO Peter Gould, diretor-geral da RIM no Brasil. “Este lançamento representa a evolução da RIM.” A aposta no novo sistema não muda a proposta inicial da RIM de atender, principalmente, ao mercado corporativo, no qual ela continua a ser soberana. O Blackberry 7 tem como características a robustez e a segurança, itens extremamente valorizados no setor empresarial. “É um sistema à prova de bala”, diz Gould. O sucesso da fabricante no mundo corporativo não veio por acaso. Ao contrário de suas concorrentes, a fabricante opera a própria rede de dados.

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Novos rumos: para Peter Gould, diretor-geral da Rim no Brasil, a empresa não está em crise, está saindo dela

Ela também vende um software que permite às grandes corporações conectar seus sistemas de e-mail a essa rede, mantendo as políticas de segurança. Segundo Gould, atualmente existem 250 mil desses sistemas instalados. Trata-se de um diferencial importante, pois assegura uma base de clientes fiéis e de grande valor. “A presença do Blackberry nas empresas é muito grande. Isso deixa a RIM em uma posição confortável”, afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. Mas não é só no segmento corporativo que se concentram as esperanças da RIM. Os mercados fora dos Estados Unidos demonstram ainda um grande apetite pelos celulares da companhia. No segundo trimestre, enquanto as vendas americanas caíram pela metade, no restante do mundo o faturamento cresceu 38%. “É normal as pessoas olharem para apenas um país e tomar como padrão”, afirma Gould. “Mas isso não representa a real situação da empresa.”
A RIM vende seus telefones em 175 países. A América Latina, especialmente o Brasil, é um dos mercados mais atraentes. Segundo o executivo, o Blackberry detém 38% do mercado na região. Por aqui, o desafio é aumentar o reconhecimento da marca entre os consumidores. “Os brasileiros conhecem o Blackberry e o consideram bom, mas não sabem exatamente o que ele faz”, diz. Para mudar essa realidade, Gould promete mais investimentos em marketing no País. A questão que surge é se essas apostas serão suficientes para compensar o fraco desempenho no mercado americano. Pesa contra a RIM, ainda, o fato de muitas companhias, que antes restringiam o uso de smartphones em suas redes, estarem adotando políticas mais flexíveis.
De acordo com pesquisa da consultoria americana MGI Research, atualmente 30% das empresas dos Estados Unidos oferecem reembolso para os funcionários que utilizam o celular pessoal para o trabalho. Em 2009, era apenas um terço disso. Essas dúvidas já se refletem no valor das ações, que atualmente gira em torno de US$ 20, bem abaixo dos US$ 60 do início do ano. Para uma companhia que chegou a ser sinônimo de e-mail no celular, a situação não é nada animadora. Mas, segundo Gould, muita água ainda vai rolar por debaixo da ponte. “O mercado de smartphones está apenas engatinhando”, afirma. A estrada é longa.

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