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A preferência declarada do presidente americano pelo smartphone contribuiu para reforçar a melhor fase da BlackBerry em seus dez anos de existência. Apenas no ano fiscal encerrado em 28 de fevereiro de 2009, foram comercializados 26 milhões de aparelhos BlackBerry – ultrapassando a marca dos 50 milhões de unidades vendidas pela empresa desde a sua fundação. O impressionante salto na base de usuários é resultado de uma agressiva estratégia adotada pela empresa para se aproximar mais do consumidor final – mercado que virou alvo de gigantes da tecnologia, como Apple, LG e Nokia. Graças a essa meta, o Brasil entrou na órbita de interesse da RIM. Uma fonte próxima à empresa garante que até o início de 2010 a BlackBerry iniciará a produção de aparelhos no País. O outro co-CEO da RIM, Jim Balsillie, não comenta a informação, apenas diz que tem planos ambiciosos para o Brasil. “Fiquem atentos aos nossos próximos passos. O Brasil é muito estratégico e é importante ter uma estrutura nesse mercado”, disse à DINHEIRO, durante o WES, convenção anual da RIM, ocorrida em Orlando. Do Brasil, a companhia pretende atender os mercados da América Latina – região que registrou o maior crescimento nas vendas do BlackBerry nos últimos três anos. “Uma empresa esperta priorizaria isso”, acrescenta Balsillie.
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Não é certo que a companhia erga uma fábrica aqui. Uma possibilidade seria a terceirização da produção por meio de um parceiro local. Afinal, há uma significativa capacidade ociosa das unidades fabris de eletroeletrônicos no País. De qualquer forma, a produção local pode significar a vitória na guerra contra a Apple. “Se a BlackBerry oferecer smartphones mais baratos, pode roubar parte do mercado do iPhone”, afirma Célia Bastos, gerente de negócios de telecom da Gfk Marketing Services Brasil. Discreta e conservadora, voltada para o segmento corporativo, a marca recebeu uma repaginada geral nos últimos 12 meses.
Nesse período, lançou cinco novos aparelhos – a média anterior era de dois por ano. Incorporou funções multimídia nos equipamentos e trouxe leveza e variedade para o design dos antigos tijolões. Aparelhos com flip, câmera e touch screen foram acrescentados ao seu portfólio. Para se encaixar no perfil dos clientes de países da América Latina, por exemplo, desenvolveu aparelhos com sistema pré-pago na região. Além disso, criou um pacote de vantagens para pequenos empresários – um grupo de cinco usuários paga US$ 500 mensais.
E diferentemente da Apple, a BlackBerry não mantém contrato de exclusividade com as operadoras.
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Só a ferramenta de acesso à rede social Facebook teve mais de dez mil downloads. “Nossa estratégia é deixar os desenvolvedores livres. Nós não vamos guiar quais aplicativos devem ser criados. E sim deixar o mercado decidir”, afirma Jeff McDowell, vice-presidente de alianças globais da RIM. ‘“Isso nos ajuda a vender mais aparelhos.” A previsão é que até o final do ano a loja virtual ganhe uma versão nacional. Antes mesmo de sua inauguração, desenvolvedores brasileiros de aplicativos já se tornaram parceiros da BlackBerry. É o caso de Gustavo Perez, CEO da MTM Tecnologia. Ele é responsável pela criação do EinstenMobile, uma ferramenta que permite que os médicos do Hospital Albert Einstein, um centro de referência médica do País, acessem remotamente informações de pacientes por meio de dispositivos BlackBerry. Perez recebeu da RIM suporte técnico para o desenvolvimento da ferramenta e consultoria. Além disso, a fabricante se responsabiliza pelo trabalho de divulgação do aplicativo. Em troca, a BlackBerry ganha novos usuários.
Com o EinstenMobile, os cinco mil médicos do hospital se tornam clientes em potencial. E para Perez ter a BlackBerry como parceira dá mais credibilidade a seu negócio. “Só aceitamos criar um banco de dados remoto com as informações médicas de pacientes porque confiamos na marca BlackBerry em termos de segurança“, afirma Sérgio Arai, diretor de TI do hospital. Além disso, a canadense recebe 20% da receita dos aplicativos vendidos na App World – em sua loja virtual, a Apple fica com 30% do valor.
Os resultados dessa estratégia aparecem nos números da companhia. De acordo com a IDC, no quarto trimestre de 2008, a participação da RIM no mercado americano de smartphones subiu de 40% para 47,5%. No mesmo período, a fatia da Apple caiu de 30,1% para 22,3%. “Enquanto os outros estão adaptando seus aparelhos, nós sempre fomos 100% focados em smartphones”, lembra Mike McAndrews, vice-presidente de marketing e produtos da RIM. No ano fiscal de 2009, o faturamento alcançou US$ 11,07 bilhões, crescimento de 84% sobre os US$ 6,01 bilhões do ano anterior. No Brasil, um dos motivos que despertam mais atenção das fabricantes de smartphones é a perspectiva de crescimento do segmento. Esses equipamentos foram comercializados por apenas 56% das lojas de celulares no período de janeiro a março deste ano. “Isso demonstra o potencial de aumento da capilaridade”, afirma Márcia Freire, gerente de negócios da Gfk.
Fonte: IstoÉ
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