A marca líder em smartphones decidiu: vai fabricar seus produtos no Brasil. Assim quer se aproximar do consumidor final e enfrentar o iPhone
Avesso a polêmicas, defensordo diálogo permanente até com os mais renhidos adversários dos Estados Unidos, como os governos de Cuba e do Irã, o presidente BarackObama não hesitou, ainda na campanha eleitoral, em comprar uma boa briga pública para defender um aparelho de telefone. “Não vou me separar dele, se for eleito”, garantiu o então candidato, referindo-se a seu inseparável BlackBerry, o pioneiro entre os chamados smartphones. A frase causou alvoroço, principalmente porque o BlackBerry é fabricado pela canadense Research in Motion (RIM) e tem como maior concorrente o americaníssimo iPhone, da Apple, um símbolo da capacidade de inovação do país. A declaração de amor não impediu a vitória de Obama e sou como música nos ouvidos dos executivos da RIM. “Quem usa o BlackBerry, cria uma relação sentimental com o aparelho e não pode viver mais sem ele”, afirma Mike Lazaridis, fundador e co-CEO da RIM.
A preferência declarada do presidente americano pelo smartphone contribuiu para reforçar a melhor fase da BlackBerry em seus dez anos de existência. Apenas no ano fiscal encerrado em 28 de fevereiro de 2009, foram comercializados 26 milhões de aparelhos BlackBerry – ultrapassando a marca dos 50 milhões de unidades vendidas pela empresa desde a sua fundação. O impressionante salto na base de usuários é resultado de uma agressiva estratégia adotada pela empresa para se aproximar mais do consumidor final – mercado que virou alvo de gigantes da tecnologia, como Apple, LG e Nokia. Graças a essa meta, o Brasil entrou na órbita de interesse da RIM. Uma fonte próxima à empresa garante que até o início de 2010 a BlackBerry iniciará a produção de aparelhos no País. O outro co-CEO da RIM, Jim Balsillie, não comenta a informação, apenas diz que tem planos ambiciosos para o Brasil. “Fiquem atentos aos nossos próximos passos. O Brasil é muito estratégico e é importante ter uma estrutura nesse mercado”, disse à DINHEIRO, durante o WES, convenção anual da RIM, ocorrida em Orlando. Do Brasil, a companhia pretende atender os mercados da América Latina – região que registrou o maior crescimento nas vendas do BlackBerry nos últimos três anos. “Uma empresa esperta priorizaria isso”, acrescenta Balsillie.Em entrevista à DINHEIRO no ano passado, Angel Aldana, gerente-sênior de alianças para a América Latina da RIM, deu a primeira pista nesse sentido, ao afirmar que a empresa “faria qualquer coisa para evitar o crescimento do iPhone no Brasil”, inclusive a fabricação local, como forma de baixar efetivamente o preço dos aparelhos por aqui. Agora, veio a confirmação definitiva desse plano.
Não é certo que a companhia erga uma fábrica aqui. Uma possibilidade seria a terceirização da produção por meio de um parceiro local. Afinal, há uma significativa capacidade ociosa das unidades fabris de eletroeletrônicos no País. De qualquer forma, a produção local pode significar a vitória na guerra contra a Apple. “Se a BlackBerry oferecer smartphones mais baratos, pode roubar parte do mercado do iPhone”, afirma Célia Bastos, gerente de negócios de telecom da Gfk Marketing Services Brasil. Discreta e conservadora, voltada para o segmento corporativo, a marca recebeu uma repaginada geral nos últimos 12 meses.
Nesse período, lançou cinco novos aparelhos – a média anterior era de dois por ano. Incorporou funções multimídia nos equipamentos e trouxe leveza e variedade para o design dos antigos tijolões. Aparelhos com flip, câmera e touch screen foram acrescentados ao seu portfólio. Para se encaixar no perfil dos clientes de países da América Latina, por exemplo, desenvolveu aparelhos com sistema pré-pago na região. Além disso, criou um pacote de vantagens para pequenos empresários – um grupo de cinco usuários paga US$ 500 mensais.
E diferentemente da Apple, a BlackBerry não mantém contrato de exclusividade com as operadoras.Tudo isso para atingir um público que até pouco tempo atrás não seduzia os executivos da RIM: o consumidor final. A companhia despertou definitivamente para isso quando a febre dos smartphones se espalhou pelo mercado com o lançamento do iPhone. O fato provocou uma reviravolta em seu plano de negócios. As necessidades do consumidor final passaram a guiar os passos da empresa. Por isso, ela entrou de cabeça no rentável universo dos aplicativos. Recentemente, a empresa inaugurou sua loja virtual de aplicativos, App World. Em apenas dois meses, mais de 17 mil aplicativos foram criados por desenvolvedores parceiros da marca.
Só a ferramenta de acesso à rede social Facebook teve mais de dez mil downloads. “Nossa estratégia é deixar os desenvolvedores livres. Nós não vamos guiar quais aplicativos devem ser criados. E sim deixar o mercado decidir”, afirma Jeff McDowell, vice-presidente de alianças globais da RIM. ‘“Isso nos ajuda a vender mais aparelhos.” A previsão é que até o final do ano a loja virtual ganhe uma versão nacional. Antes mesmo de sua inauguração, desenvolvedores brasileiros de aplicativos já se tornaram parceiros da BlackBerry. É o caso de Gustavo Perez, CEO da MTM Tecnologia. Ele é responsável pela criação do EinstenMobile, uma ferramenta que permite que os médicos do Hospital Albert Einstein, um centro de referência médica do País, acessem remotamente informações de pacientes por meio de dispositivos BlackBerry. Perez recebeu da RIM suporte técnico para o desenvolvimento da ferramenta e consultoria. Além disso, a fabricante se responsabiliza pelo trabalho de divulgação do aplicativo. Em troca, a BlackBerry ganha novos usuários.
Com o EinstenMobile, os cinco mil médicos do hospital se tornam clientes em potencial. E para Perez ter a BlackBerry como parceira dá mais credibilidade a seu negócio. “Só aceitamos criar um banco de dados remoto com as informações médicas de pacientes porque confiamos na marca BlackBerry em termos de segurança“, afirma Sérgio Arai, diretor de TI do hospital. Além disso, a canadense recebe 20% da receita dos aplicativos vendidos na App World – em sua loja virtual, a Apple fica com 30% do valor.
Os resultados dessa estratégia aparecem nos números da companhia. De acordo com a IDC, no quarto trimestre de 2008, a participação da RIM no mercado americano de smartphones subiu de 40% para 47,5%. No mesmo período, a fatia da Apple caiu de 30,1% para 22,3%. “Enquanto os outros estão adaptando seus aparelhos, nós sempre fomos 100% focados em smartphones”, lembra Mike McAndrews, vice-presidente de marketing e produtos da RIM. No ano fiscal de 2009, o faturamento alcançou US$ 11,07 bilhões, crescimento de 84% sobre os US$ 6,01 bilhões do ano anterior. No Brasil, um dos motivos que despertam mais atenção das fabricantes de smartphones é a perspectiva de crescimento do segmento. Esses equipamentos foram comercializados por apenas 56% das lojas de celulares no período de janeiro a março deste ano. “Isso demonstra o potencial de aumento da capilaridade”, afirma Márcia Freire, gerente de negócios da Gfk.
Fonte: IstoÉ
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