Depois de reforçar sua parceria comercial e ganhar importância na solução da crise econômica, China e Brasil buscam consolidar aliança nos fóruns políticos
China e Brasil protagonizam uma reunião histórica esta semana. Em meio a um cenário internacional de incertezas, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hu Jintao se sentam à mesa, em Pequim, para discutir a intensificação das relações bilaterais e traçar um plano de ação contra a crise econômica internacional.
As duas potências emergentes, que juntas têm 1,5 bilhão de habitantes e um PIB equivalente a US$ 6 trilhões, concentram as esperanças de boa parte do globo. Credenciais não lhes faltam: a economia da China alçou o terceiro lugar no ranking mundial, enquanto o Brasil desponta como liderança diplomática e principal interlocutor da América Latina nos fóruns multilaterais. Para completar, os dois países se tornaram parceiros preferenciais.
A corrente de comércio bilateral em abril somou US$ 3,2 bilhões - superando os US$ 2,8 bilhões das trocas entre Brasil e Estados Unidos. Analistas consultados por ISTOÉ afirmam que se trata de um momento-chave. "É um encontro estratégico que re flete uma profunda mudança na balança de poder geopolítico", diz Yiyi Lu, pesquisadora do China Policy Institute, da Universidade de Nottingham, na Inglaterra.
"É um encontro estratégico, que re flete uma profunda mudança na balança de poder geopolítico"
Yiyi Lu, pesquisadora do China Policy Institute
Para o cientista político Riordan Roett, diretor de Estudos Hemisféricos da Universidade Johns Hopkins, em Washington, as duas nações "representam o futuro do sistema internacional". "Brasil e China, junto aos demais BRICs (Rússia e Índia), terão cada vez mais capacidade de in fluenciar na formulação de políticas no plano internacional", afirma. Como exemplo, cita o papel desempenhado por Brasil e China no G-20 comercial e no G-20 financeiro. Dan Erikson, analista do Interamerican Dialogue, também ressalta a "intensificação da parceria" entre brasileiros e chineses. "Esse fluxo de comércio é imprescindível para fazer girar a roda da economia internacional", garante.
A expectativa para o encontro de Pequim é grande. De acordo com o professor Alexandre Uehara, do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional, da USP, este "é o momento para o Brasil tentar reequilibrar a balança comercial e melhorar a pauta de exportações". Cerca de 80% das exportações brasileiras pa ra a China são commodities, enquanto 78% das importações são manufaturados.
Paralelamente às negociações comerciais, os presidentes devem formalizar o contrato de financiamento de US$ 10 bilhões entre a Petrobras e o Banco de Desenvolvimento da China, e assinar memorandos de entendimento nas áreas cultural, acadêmica e científica. Lula também vai visitar a Academia Chinesa de Tecnologia Espacial, berço do programa de produção do satélite sino-brasileiro. "A cooperação espacial é uma das áreas de maior avanço", diz Lytton Guimarães, diretor do Núcleo de Estudos Asiáticos da UnB. Para ele, a oportunidade serve "para se buscar posições comuns nos fóruns multilaterais".
Esse é o espírito das conversações entre Lula e Hu Jintao em torno da elaboração de um plano de ação que orientará as relações bilaterais. Há um esforço diplomático para se formalizar o chamado "BRIC político". A diplomacia brasileira tem feito gestões para institucionalizar uma aliança entre Brasil, Rússia, Índia e China, os países que formam a sigla criada pelo banco americano Goldman Sachs.
Na carona do debate sobre a reestruturação do sistema financeiro mundial, se busca um reequilíbrio geopolítico baseado no multilateralismo. Na visão da diplomacia brasileira, essa mudança passa pela reforma das Nações Unidas, do FMI e dos bancos multilaterais de desenvolvimento e financiamento. Ainda há arestas a aparar. Pequim resiste a uma reforma do Conselho de Segurança que, além do Brasil, integre Japão e Índia. Uma reunião de chanceleres dos BRICs está marcada para 16 de junho, em Ekaterinburg, na Rússia.
Fonte: IstoÉ
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