Agência aponta necessidade de políticas mais agressivas
Dois relatórios recém-lançados mostram que a energia limpa ganhou mais espaço no mundo na última década, com destaque para as modalidades solar e eólica, mas o esforço para reduzir a predominância dos combustíveis fósseis precisará de políticas mais "agressivas", que incluem a redução dos subsídios aos derivados de petróleo e o aumento aos incentivos governamentais para a produção de formas de energia menos poluentes. A fundação norte-americana Pew Charitable Trusts, que apresentou no dia 29 de março a edição 2010 do relatório "Who’s Winning the Clean Energy Race?" (Quem está vencendo a corrida da energia limpa?), revela que houve um crescimento mundial dos investimentos do setor de energia limpa de 30% entre 2009 e 2010, atingindo a marca de US$ 243 bilhões.
O documento "Clean Energy Progress Report" (Relatório sobre o progresso da energia limpa), divulgado em 6 de abril pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), destaca a importância conquistada na última década por algumas tecnologias de energia renovável, ao ponto de se tornarem mais competitivas que algumas das tecnologias convencionais. Entretanto, a IEA pondera que os custos da maioria das inovações tecnológicas ainda superam aqueles relacionados aos combustíveis fósseis, que receberam US$ 312 bilhões em subsídios em 2009, contra apenas US$ 57 bilhões para energias renováveis.
Para a Agência, uma "revolução da energia limpa" pode ser alcançada com uma ampla política de estímulo. "Ao longo das últimas duas décadas, vários países conseguiram promover alterações dramáticas em seus mercados energéticos. A chave para o sucesso tem sido a criação de uma abordagem estratégica e compreensiva que informe o público sobre segurança energética, crescimento econômico e benefícios ambientais dos investimentos em energia limpa", informa o texto.
Vice-liderança brasileira entre os emergentes
O Brasil tem conquistado destaque nesse cenário, registrando US$ 7,6 bilhões em investimentos em energia limpa em 2010. Com isso, o País ficou na sexta posição entre os países do G-20 e em segundo lugar entre os emergentes, atrás apenas da China, de acordo com o relatório da Pew Charitable Trusts. Dos recursos destinados para a energia limpa no Brasil, 40% foram para os biocombustíveis, 31% para energia eólica e 28% para outras fontes renováveis.
O estudo mostra que o País também está na sexta colocação entre os membros do G-20 que tiveram maior crescimento nos investimentos nos últimos cinco anos, com 81%. No entanto, os aportes no Brasil sofreram uma redução de 1,3% entre 2010 e o ano anterior, quando somaram US$ 7,7 bilhões; em 2009, o País ocupava a sétima posição no ranking. O indicador que mede a intensidade de investimentos, relacionando o total aportado com o Produto Interno Bruto (PIB), coloca o Brasil na sétima colocação, com uma proporção de 0,35%. Na Alemanha, o país que mais investe em energia limpa em relação ao PIB, essa proporção foi de 1,4% no ano passado.
Entre os países com maior capacidade instalada de energia limpa, o Brasil, no entanto, figura apenas na nona colocação, somando 13,84 GW, atrás de países como China (1º lugar, com 103,36 GW), Estados Unidos (2º lugar, 57,99 GW) e Alemanha (3º lugar, 48,86 GW). No período de 2005 a 2010, o Brasil foi o oitavo país que mais cresceu em capacidade instalada, com alta de 42%, de acordo com o documento "Who’s Winning the Clean Energy Race?".
Nova indústria mundial
Para a Pew Trusts, o setor de energia limpa deixou de se restringir a aplicações em nichos específicos para se transformar em uma indústria mundial na primeira década do século XXI, chegando a adicionar anualmente mais de 60 GW na produção global de energia. "O rápido crescimento e o tamanho considerável dessa ainda jovem indústria captaram igualmente a atenção dos investidores, inventores e tomadores de decisão", destaca o relatório. Os 20 países mais ricos do mundo concentraram 90% dos recursos aportados nesse setor no ano passado.
Com o aumento do interesse sobre as fontes de energia limpas, aumentaram também as iniciativas governamentais de criação de estímulos ao setor, originando novas fontes de financiamento. Além disso, os países têm criado políticas para aumentar a produção e conquistar vantagens competitivas em determinados setores. "Especialmente, está claro que o centro de gravidade para os investimentos em energia limpa está mudando do Ocidente (Europa e Estados Unidos) para o Oriente (China, Índia e outras nações asiáticas)."
Dados levantados pela Pew Trusts mostram que a pesquisa e o desenvolvimento no setor de energia limpa, financiados com recursos públicos e privados, cresceu 24% no mundo em 2010, atingindo o patamar de US$ 35 bilhões. Considerando apenas os países do G-20, houve um crescimento de 27% no financiamento para a área a partir do capital de risco, incluindo venture capital e private equity, no total de US$ 8,1 bilhões.
Liderança europeia nos aportes
Na lista das regiões que mais recebem investimentos nesse setor, a primeira posição é ocupada pela Europa (US$ 94,4 bilhões), seguida pela Ásia (US$ 82,8 bilhões). O continente americano aparece em terceiro lugar, com aumento de 35% no período, para US$ 65,8 bilhões. No ranking dos países, os Estados Unidos continuam sendo o principal destino dos aportes na América, com US$ 34 bilhões em 2010, mas, apesar de os investimentos norte-americanos terem crescido 51% em relação a 2009, o país perdeu a segunda posição no G-20 para a Alemanha (US$ 41,2 bilhões), que teve 100% de crescimento, e ainda está atrás da China (US$ 54,4 bilhões), que cresceu 39%.
Entre as principais fontes de energia limpa, a solar se destacou no G-20 com crescimento dos investimentos do setor privado de 53%, alcançando a marca recorde de US$ 79 bilhões, estimulada principalmente por projetos de pequena escala e residenciais. Apesar da elevação mais modesta de 34% no G-20, a energia eólica continua sendo a que mais recursos recebe entre as fontes limpas, com US$ 95 bilhões — o que representa 48% do total de investimentos.
Recuo dos biocombustíveis
Em âmbito mundial, os biocombustíveis tiveram uma queda em relação a 2009, totalizando investimentos de apenas US$ 4,7 bilhões em 2010 — o nível menor desde 2005. Segundo o relatório da Pew Trusts, isso "reflete o fato de que a capacidade de produção de biocombustíveis de primeira geração excedeu a demanda em uma série de mercados importantes e que a segunda geração de combustíveis não está suficientemente avançada para distribuição comercial em larga escala".
O relatório da IEA indica, no entanto, que o consumo de biocombustíveis continua crescente no mundo, com destaque para os Estados Unidos e o Brasil, mas ele representa apenas 2,7% do consumo global nos transportes rodoviários. A Agência prevê que seria necessário um crescimento sustentável da produção mundial de dez vezes para se alcançar as metas ambientais sobre mudanças climáticas até 2050, quando se espera que os biocombustíveis respondam por 27% dos transportes rodoviários. Entre 2000 e 2010, a produção mundial de biocombustíveis passou de 16 bilhões de litros para mais de 100 bilhões de litros. "Será particularmente importante que os biocombustíveis avançados alcancem a escala comercial nos próximos dez anos, com um aumento de 30 vezes na capacidade até 2030", conclui a IEA.
Consolidação chinesa
Chamada no relatório de superpotência global de energia limpa, a China mostra números surpreendentes nos últimos anos. Se em 2005 ela recebeu menos de US$ 3 bilhões em investimentos privados, em 2009 — ano em que tomou a dianteira em escala mundial — foram US$ 39,1 bilhões. Em 2010, os investimentos computados na China foram iguais aos aportes feitos em 2004 em todo o mundo, compara a Pew Charitable Trusts. "Com metas agressivas em energia limpa e clara ambição de dominar a fabricação e geração em energia limpa, a China está rapidamente avançando para a dianteira em relação ao resto do mundo", explica o relatório.
No ano passado, o país foi responsável pela produção de quase 50% dos módulos solares e turbinas eólicas. No entanto, a China tem uma capacidade instalada de energia solar de apenas 1 GW, o que demonstra que sua produção de painéis e módulos tem visado o mercado externo. Em contrapartida, a energia eólica tem crescido muito dentro do país; com uma meta de atingir 150 GW instalados até 2020, a China instalou, apenas em 2010, 17 GW, ao valor de US$ 45 bilhões, o que representou 47% do aporte global em energia eólica.
Programas de estímulo
Levantamento da Pew Trusts, com base em informações da Bloomberg New Energy Finance, mostra que 12 membros do G-20 adotaram programas para estimular o estratégico setor da energia limpa e para combater os efeitos da crise financeira mundial de 2008/2009. Esses programas de energia limpa totalizaram US$ 194,3 bilhões nos anos de 2009 e 2010, de acordo com o documento. Desse total, 49% ou US$ 94,8 bilhões já foram gastos até o final do ano passado. Desde o começo de 2009, a maior parte desses fundos foi empregada nas seguintes áreas: 37% para programas de eficiência energética, 21% para projetos de energia renováveis, 19% para pesquisa e desenvolvimento, e 17% para iniciativas de redes elétricas inteligentes (smart grid).
Diferentemente de países como a França — que já aplicou 100% dos recursos programados — e do Japão — que já gastou mais de 85% —, o Brasil apenas gastou 7% dos US$ 2,5 bilhões anunciados pelo governo desde 2009. O País é o último da lista de percentual de recursos aplicados em energia limpa, perdendo apenas para o Canadá, que também só investiu 17% dos US$ 800 milhões divulgados.
O documento "Clean Energy Progress Report" (Relatório sobre o progresso da energia limpa), divulgado em 6 de abril pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), destaca a importância conquistada na última década por algumas tecnologias de energia renovável, ao ponto de se tornarem mais competitivas que algumas das tecnologias convencionais. Entretanto, a IEA pondera que os custos da maioria das inovações tecnológicas ainda superam aqueles relacionados aos combustíveis fósseis, que receberam US$ 312 bilhões em subsídios em 2009, contra apenas US$ 57 bilhões para energias renováveis.
Para a Agência, uma "revolução da energia limpa" pode ser alcançada com uma ampla política de estímulo. "Ao longo das últimas duas décadas, vários países conseguiram promover alterações dramáticas em seus mercados energéticos. A chave para o sucesso tem sido a criação de uma abordagem estratégica e compreensiva que informe o público sobre segurança energética, crescimento econômico e benefícios ambientais dos investimentos em energia limpa", informa o texto.
Vice-liderança brasileira entre os emergentes
O Brasil tem conquistado destaque nesse cenário, registrando US$ 7,6 bilhões em investimentos em energia limpa em 2010. Com isso, o País ficou na sexta posição entre os países do G-20 e em segundo lugar entre os emergentes, atrás apenas da China, de acordo com o relatório da Pew Charitable Trusts. Dos recursos destinados para a energia limpa no Brasil, 40% foram para os biocombustíveis, 31% para energia eólica e 28% para outras fontes renováveis.
O estudo mostra que o País também está na sexta colocação entre os membros do G-20 que tiveram maior crescimento nos investimentos nos últimos cinco anos, com 81%. No entanto, os aportes no Brasil sofreram uma redução de 1,3% entre 2010 e o ano anterior, quando somaram US$ 7,7 bilhões; em 2009, o País ocupava a sétima posição no ranking. O indicador que mede a intensidade de investimentos, relacionando o total aportado com o Produto Interno Bruto (PIB), coloca o Brasil na sétima colocação, com uma proporção de 0,35%. Na Alemanha, o país que mais investe em energia limpa em relação ao PIB, essa proporção foi de 1,4% no ano passado.
Entre os países com maior capacidade instalada de energia limpa, o Brasil, no entanto, figura apenas na nona colocação, somando 13,84 GW, atrás de países como China (1º lugar, com 103,36 GW), Estados Unidos (2º lugar, 57,99 GW) e Alemanha (3º lugar, 48,86 GW). No período de 2005 a 2010, o Brasil foi o oitavo país que mais cresceu em capacidade instalada, com alta de 42%, de acordo com o documento "Who’s Winning the Clean Energy Race?".
Nova indústria mundial
Para a Pew Trusts, o setor de energia limpa deixou de se restringir a aplicações em nichos específicos para se transformar em uma indústria mundial na primeira década do século XXI, chegando a adicionar anualmente mais de 60 GW na produção global de energia. "O rápido crescimento e o tamanho considerável dessa ainda jovem indústria captaram igualmente a atenção dos investidores, inventores e tomadores de decisão", destaca o relatório. Os 20 países mais ricos do mundo concentraram 90% dos recursos aportados nesse setor no ano passado.
Com o aumento do interesse sobre as fontes de energia limpas, aumentaram também as iniciativas governamentais de criação de estímulos ao setor, originando novas fontes de financiamento. Além disso, os países têm criado políticas para aumentar a produção e conquistar vantagens competitivas em determinados setores. "Especialmente, está claro que o centro de gravidade para os investimentos em energia limpa está mudando do Ocidente (Europa e Estados Unidos) para o Oriente (China, Índia e outras nações asiáticas)."
Dados levantados pela Pew Trusts mostram que a pesquisa e o desenvolvimento no setor de energia limpa, financiados com recursos públicos e privados, cresceu 24% no mundo em 2010, atingindo o patamar de US$ 35 bilhões. Considerando apenas os países do G-20, houve um crescimento de 27% no financiamento para a área a partir do capital de risco, incluindo venture capital e private equity, no total de US$ 8,1 bilhões.
Liderança europeia nos aportes
Na lista das regiões que mais recebem investimentos nesse setor, a primeira posição é ocupada pela Europa (US$ 94,4 bilhões), seguida pela Ásia (US$ 82,8 bilhões). O continente americano aparece em terceiro lugar, com aumento de 35% no período, para US$ 65,8 bilhões. No ranking dos países, os Estados Unidos continuam sendo o principal destino dos aportes na América, com US$ 34 bilhões em 2010, mas, apesar de os investimentos norte-americanos terem crescido 51% em relação a 2009, o país perdeu a segunda posição no G-20 para a Alemanha (US$ 41,2 bilhões), que teve 100% de crescimento, e ainda está atrás da China (US$ 54,4 bilhões), que cresceu 39%.
Entre as principais fontes de energia limpa, a solar se destacou no G-20 com crescimento dos investimentos do setor privado de 53%, alcançando a marca recorde de US$ 79 bilhões, estimulada principalmente por projetos de pequena escala e residenciais. Apesar da elevação mais modesta de 34% no G-20, a energia eólica continua sendo a que mais recursos recebe entre as fontes limpas, com US$ 95 bilhões — o que representa 48% do total de investimentos.
Recuo dos biocombustíveis
Em âmbito mundial, os biocombustíveis tiveram uma queda em relação a 2009, totalizando investimentos de apenas US$ 4,7 bilhões em 2010 — o nível menor desde 2005. Segundo o relatório da Pew Trusts, isso "reflete o fato de que a capacidade de produção de biocombustíveis de primeira geração excedeu a demanda em uma série de mercados importantes e que a segunda geração de combustíveis não está suficientemente avançada para distribuição comercial em larga escala".
O relatório da IEA indica, no entanto, que o consumo de biocombustíveis continua crescente no mundo, com destaque para os Estados Unidos e o Brasil, mas ele representa apenas 2,7% do consumo global nos transportes rodoviários. A Agência prevê que seria necessário um crescimento sustentável da produção mundial de dez vezes para se alcançar as metas ambientais sobre mudanças climáticas até 2050, quando se espera que os biocombustíveis respondam por 27% dos transportes rodoviários. Entre 2000 e 2010, a produção mundial de biocombustíveis passou de 16 bilhões de litros para mais de 100 bilhões de litros. "Será particularmente importante que os biocombustíveis avançados alcancem a escala comercial nos próximos dez anos, com um aumento de 30 vezes na capacidade até 2030", conclui a IEA.
Consolidação chinesa
Chamada no relatório de superpotência global de energia limpa, a China mostra números surpreendentes nos últimos anos. Se em 2005 ela recebeu menos de US$ 3 bilhões em investimentos privados, em 2009 — ano em que tomou a dianteira em escala mundial — foram US$ 39,1 bilhões. Em 2010, os investimentos computados na China foram iguais aos aportes feitos em 2004 em todo o mundo, compara a Pew Charitable Trusts. "Com metas agressivas em energia limpa e clara ambição de dominar a fabricação e geração em energia limpa, a China está rapidamente avançando para a dianteira em relação ao resto do mundo", explica o relatório.
No ano passado, o país foi responsável pela produção de quase 50% dos módulos solares e turbinas eólicas. No entanto, a China tem uma capacidade instalada de energia solar de apenas 1 GW, o que demonstra que sua produção de painéis e módulos tem visado o mercado externo. Em contrapartida, a energia eólica tem crescido muito dentro do país; com uma meta de atingir 150 GW instalados até 2020, a China instalou, apenas em 2010, 17 GW, ao valor de US$ 45 bilhões, o que representou 47% do aporte global em energia eólica.
Programas de estímulo
Levantamento da Pew Trusts, com base em informações da Bloomberg New Energy Finance, mostra que 12 membros do G-20 adotaram programas para estimular o estratégico setor da energia limpa e para combater os efeitos da crise financeira mundial de 2008/2009. Esses programas de energia limpa totalizaram US$ 194,3 bilhões nos anos de 2009 e 2010, de acordo com o documento. Desse total, 49% ou US$ 94,8 bilhões já foram gastos até o final do ano passado. Desde o começo de 2009, a maior parte desses fundos foi empregada nas seguintes áreas: 37% para programas de eficiência energética, 21% para projetos de energia renováveis, 19% para pesquisa e desenvolvimento, e 17% para iniciativas de redes elétricas inteligentes (smart grid).
Diferentemente de países como a França — que já aplicou 100% dos recursos programados — e do Japão — que já gastou mais de 85% —, o Brasil apenas gastou 7% dos US$ 2,5 bilhões anunciados pelo governo desde 2009. O País é o último da lista de percentual de recursos aplicados em energia limpa, perdendo apenas para o Canadá, que também só investiu 17% dos US$ 800 milhões divulgados.
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