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terça-feira, 24 de maio de 2011

À espera das gigantes

Pequenos e médios fabricantes de microchips começam a desembarcar no País para construir, do zero, uma indústria de alta tecnologia. O sucesso deles, porém, depende de contrapartidas do governo

O americano Andy Growstra, vice-presidente da fabricante de microchips Perceptia, está de malas prontas. A partir de janeiro, sua rotina será viajar de Scotts Valley, sede da empresa na Califórnia, para Campinas (SP) e Sydney, na Austrália, base da Perceptia para o mercado asiático. Para ele, a rota Estados Unidos-Austrália não é uma novidade, mas a escala no Brasil será.

Growstra anunciou investimento de R$ 1,5 milhão para inaugurar a primeira fábrica da empresa no País, que dará suporte para uma série de importantes companhias de tecnologia que ensaiam desembarcar no Brasil – entre elas a chinesa Foxconn, que fabricará iPhone e iPad em Jundiaí (SP), com investimentos de R$ 20 bilhões, além das gigantes Qualcomm, Intel e AMD, que negociam, nos bastidores, incentivos do governo brasileiro. “Estamos empolgados com o potencial do Brasil na área de tecnologia não apenas pelo que existe hoje, mas pelo interesse das empresas em se mudar para cá”, afirma Growstra. “Poucos mercados têm tanta possibilidade de se tornar uma potência na microeletrônica quanto o Brasil”, reforça o executivo.

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Embora o R$ 1,5 milhão da Perceptia, dona de um faturamento anual de US$ 3,4 bilhões, seja pequeno comparado aos bilionários investimentos das líderes do mundo da tecnologia, o anúncio simboliza um movimento muito maior. Assim como a companhia californiana, um grupo de dezenas de pequenas e médias empresas de tecnologia começa a pavimentar o caminho para a chegada das grandes. “Nenhuma grande empresa do setor virá para o Brasil sem que exista uma estruturada cadeia de fornecedores”, disse à DINHEIRO Hector Ruiz, ex-presidente mundial da AMD, vice-líder mundial em processadores para microcomputadores, e atual CEO da Bull Ventures, consultoria para a área de tecnologia. “O País vive hoje uma oportunidade única.
Tem a chance de estruturar uma indústria que gera riqueza de forma muita rápida e, quando começar a exportar, agrega valor e conhecimento à economia”, afirmou Dermot Barry, presidente da irlandesa S3 Group, que procura um local – e, evidentemente, incentivos – para se instalar no País. “O Brasil precisa disso e estamos preparados para contribuir”.
A afirmação de Barry faz todo sentido – e o governo não esconde a preocupação com a inexistência de uma indústria de alto valor agregado e com a excessiva dependência da exportação de commodities. O setor que mais contribui em inovação tecnológica, o de semicondutores, é também o que mais impacta negativamente na balança comercial. Como o País não produz nada do que consome em microeletrônicos, o governo calcula em US$ 8,2 bilhões o déficit na importação de telas de LCD (US$ 3,9 bilhões) e de semicondutores (US$ 4,3 bilhões).

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O problema brasileiro para alçar a indústria de semicondutores de seu atual estágio embrionário para o de tão sonhado competidor global é o longo caminho a ser pavimentado. O ambiente de negócios brasileiro não oferece condições para a instalação de uma fábrica de semicondutores, um investimento que varia entre R$ 1 bilhão e R$ 5 bilhões.
Para assumir tamanho aporte, as empresas do ramo exigem generosas contrapartidas, como incentivos fiscais e tributários, sem contar infraestrutura de primeiro mundo. A chinesa Foxconn, por exemplo, enviou uma série de exigências ao governo brasileiro para implantar seu projeto no País.

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As demandas vão desde a emissão imediata de passaportes para qualificação de 200 engenheiros na China à classificação dos tablets como notebooks – o que a Receita Federal tem resistido em fazer –, medida que reduziria em dois terços a carga tributária do iPad. O preço do aparelho cairia de R$ 2,3 mil para aproximadamente R$ 800. “Estamos adequando a legislação atual para possibilitar investimentos no Brasil, e o iPad é só um exemplo”, disse à DINHEIRO o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.
O relógio corre contra o governo. Uma resposta deve ser dada até o fim de maio, no anúncio da segunda edição do Plano de Desenvolvimento Produtivo. A nova política industrial do governo deverá ampliar a lista de produtos eletrônicos passíveis de incentivos. Caso contrário, investimentos como o anunciado pela Foxconn serão apenas fatos isolados.
Fonte: Istoé Dinheiro

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