Na semana passada, os chanceleres de Brasil, Rússia, Índia e China acertaram os detalhes da próxima reunião de cúpula dos BRICs, grupo que pretende se apresentar ao mundo, cada vez mais, como centro de gravidade da economia global. O encontro será em Brasília em 16 de abril, mas, até lá, um desses países terá encolhido. Assim como as matrioskas, bonequinhas que se escondem umas dentro das outras em dimensões sempre menores, a Rússia diminui a cada dia. Perde população, tem uma economia que ainda não se recuperou da crise global e até mesmo sua presença entre os BRICs vem sendo questionada. O economista Jim O'Neill, que criou a expressão em 2002, diz que, àquela época, muitos lhe perguntavam por que o Brasil estava no grupo. "Hoje, só me perguntam sobre a Rússia", diz ele.
O primeiro problema da Rússia se chama demografia. Desde 1995, a população tem diminuído, em média, 0,5% ao ano, segundo o governo. Hoje, são 142 milhões de pessoas, um número ainda grande para os padrões europeus, mas o que preocupa é a tendência. A quantidade de nascimentos vem caindo, a ponto de haver incentivo público em dinheiro para estimular casais a terem filhos. Além disso, a expectativa de vida é cada vez menor, especialmente entre os homens, por problemas como o aumento da dependência de álcool e a taxa de criminalidade. A expectativa de vida dos russos, de 59,3 anos, é menor que a de chineses, brasileiros e indianos. E, nesse ritmo, a Rússia deverá perder 40 milhões de habitantes até 2050. Esses números são avaliados pelas empresas na hora de investir. Afinal, o que interessa a elas nos países emergentes é população crescente com histórico de demanda reprimida no consumo - e a Rússia cada vez se encaixa menos nesse modelo. "Países com tendência de crescimento populacional são prioritários para a Coca-Cola", disse à DINHEIRO Muhtar Kent, CEO da companhia, em entrevista recente. "O desastre demográfico da Rússia prejudica a economia no longo prazo", avalia José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados.
Outros países europeus, como Itália e Alemanha, também estão perdendo população, mas já desfrutam de um padrão de desenvolvimento que lhes permite reduzir o mercado interno. Na Rússia, essa regra não se aplica. A economia, altamente dependente do petróleo, encolheu 7,9% no ano passado - também o pior desempenho entre os BRICs. "A Rússia, que ainda está em processo de transição para o capitalismo, foi um dos países mais afetados pela crise global.
Quando empresas avaliam o risco de investir lá, precisam ter profundo conhecimento político, econômico e cultural do país", avalia Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes.O curioso é que a palavra matrioska, nome do suvenir clássico da Rússia, deriva de "mãe" e remete à ideia de perpetuação. Ironicamente, tudo o que o Kremlin gostaria de ter em termos populacionais, mas não tem.
Fonte: istoedinheiro
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