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segunda-feira, 16 de março de 2009

Nestle entra na briga do leite longa vida

Com um projeto de R$ 100 milhões, que pode ser ampliado no futuro, a multinacional Nestlé entra, a partir de abril, num novo mercado no país: o de leite longa vida premium. "Existe um espaço para ser ocupado nesse mercado [de leite longa vida] e o nosso plano é ter 5% dele no menor prazo possível", disse Ivan Zurita, presidente da Nestlé no Brasil, ao Valor.

O mercado de leite longa vida (UHT) gira cerca de 5 bilhões de litros por ano no Brasil e o de leites especiais, cerca de 100 milhões de litros, segundo Zurita. A Nestlé, com sua linha premium, quer abocanhar 250 milhões de litros do total de 5 bilhões de litros. Uma aposta sem dúvida ambiciosa que mostra que a empresa espera incrementar o ainda tímido mercado de produtos premium no país.

A nova linha terá marcas já tradicionais no portfólio da companhia, em embalagens Tetrapack. Haverá o leite Ninho fortificado com ferro e vitamina A, C e D e três desnatados: Molico enriquecido com vitamina A e D, Molico com Actifibras e Molico Cálcio Plus.

Inicialmente, a Nestlé vai ofertar a nova linha de leites no Sudeste. O desempenho das vendas vai definir quando entrar na região Sul.

A empresa fez um acordo com a Shefa, de Amparo (SP), para produzir a sua linha de leite UHT. Uma área da planta será destinada à produção com a supervisão de pessoal da Nestlé. "Inicialmente, vamos produzir na Shefa, mas vamos avaliar o mercado e, eventualmente, partir para algo maior", afirmou Zurita.

Para produzir a linha de leites UHT, a Nestlé terá de ampliar a sua captação de leite no país. Em 2008, a DPA (joint venture entre Nestlé e Fonterra) captou 1,9 bilhão de litros de um total de 46 mil produtores. O presidente da Nestlé não revela, porém, de quanto será esse aumento. A Nestlé foi líder da captação de leite no Brasil em 2007, mas a entrada da Perdigão no segmento, com a compra de várias empresas, acirrou a disputa em 2008, quando se estima que a produção de leite formal atingiu 19 bilhões de litros no país.

A Perdigão, aliás, será uma das principais concorrentes da Nestlé nesse segmento que tem margens melhores do que as do segmento de longa vida comum. Elegê e Batavo, controladas pela Perdigão, têm linhas de leites especiais. A Batavo tem leite desnatado com cálcio light, ferro com vitaminas e semidesnatado com baixa lactose. Já a Elegê tem leite desnatado extra cálcio, leite com baixo teor de lactose e leite com fibras.

Outra concorrente da Nestlé é a Parmalat, com quatro produtos na na linha de especiais. A empresa, controlada pela Laep Investiments, tem uma marca forte, mas vive dificuldades financeiras e tem reduzido sobremaneira suas operações, inclusive com a venda de fábricas. Para fontes do setor de lácteos, a estratégia da Nestlé inclui ocupar espaços deixados pela Parmalat no mercado.

O próprio presidente da Nestlé, observa, sem citar nomes de empresas do segmento, que eventos recentes relacionados à qualidade do leite afetaram o mercado de longa vida. No fim de 2007, uma operação da Polícia Federal descobriu que duas cooperativas mineiras, a Coopervale, de Uberlândia, e Casmil, de Passos, adulteravam leite cru com soda cáustica e água oxigenada. Elas eram fornecedoras da Parmalat, que as descrendenciou e sempre refutou as acusações de adulteração.

"Hoje, você vai ao supermercado e não lembra a marca de leite que comprou", comenta Zurita sobre a grande pulverização no segmento de longa vida. O país tem mais de 100 marcas de leite longa vida e cerca de 70 empresas.

Na visão de Zurita, "há um mercado a ser ocupado", já que "a categoria sofreu muito" e "existem empresas debilitadas". Essa debilidade está relacionada à oferta elevada de leite no último ano e ao desaquecimento dos preços no mercado internacional de lácteos, que desestimulou as exportações.

Ainda que as vendas externas - basicamente de leite em pó, condensado e de creme de leite - respondam por apenas 8% dos volumes de lácteos produzidos pela Nestlé, Zurita defende que a única forma de reduzir as oscilações no segmento de leite no país é abrir novos mercados para o produto nacional e assim escoar os excedentes de produção. Ele acredita que a Europa não tem condições de manter os subsídios e avalia que o Brasil é o único país com capacidade de atender a demanda mundial, já que Nova Zelândia tem restrições climáticas para elevar a produção e a Argentina não tem escala.

Fonte: Valor Econômico

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