Ganham força no mercado os outlets de luxo, varejo especializado
em marcas premium, criados para atrair aspirantes à classe A e
endinheirados mais precavidos.
Até bem pouco tempo atrás, a expressão ponta de estoque definia as lojas que comercializavam produtos de linhas descontinuadas, fora de estação, numeração incompleta ou com pequenos defeitos.
Coisa para uma turma menos exigente, que não se importava em ter roupas de coleções passadas ou uma mesa com um tampo de vidro lascado. Agora, no entanto, os tempos são outros: a ponta de estoque velha de guerra virou outlet, os produtos são premium e quem chega para comprar são endinheirados que adoram uma pechincha – sobretudo na Europa, onde a crise bateu mais forte entre a turma abonada. É o caso da cadeia Chic Outlet, da companhia britânica Value Retail, que criou o conceito em 2003 e conta com lojas em Barcelona, Madri, Londres, Dublin, Paris, Milão, Bruxelas, Frankfurt e Munique.
Apostando em marcas fashion, como a inglesa Burberry ou a italiana Versace, em artigos de design sofisticado e serviços impecáveis – de restaurantes a galeria de arte –, os outlets viram o faturamento crescer em 2012, mesmo em plena crise europeia. “Só no primeiro trimestre do ano passado, crescemos 29% em nossas noves unidades, em relação ao ano anterior”, diz Desirée Bollier, CEO da Value Retail. De acordo com o estudo da consultoria americana Bain&Co, sobre o desempenho global do mercado de luxo, em 2012, os europeus lotaram os outlets atrás de produtos de qualidade a preços que o bolso apertado deles podia pagar.
Sites especializados em compras off-price também receberam uma enxurrada de pedidos de compra. Nos Estados Unidos, um fenômeno semelhante aconteceu. Em março de 2012, o empresário Jason Binn lançou a revista Du Jour, especializada em barganhas de luxo. Em menos de um ano, a conta do Twitter da publicação tinha mais de três milhões de seguidores. O acesso à compra depende da aprovação de critérios, como ser doador de pelo menos US$ 10 mil por ano para instituições de caridade ou gastar pelo menos US$ 100 mil no setor. Desirée assume seu interesse em operar no Brasil. “Os brasileiros são a quinta nacionalidade que mais consome em nossas lojas, no mundo”, afirma.
Dados do Banco Central confirmam esse potencial: em 2012, os brasileiros gastaram US$ 22,2 bilhões de despesas lá fora, o maior volume da história do País. Porém, abertura de loja mesmo só na China, que ganhará um Chic Outlet em 2014. Para Dhora Costa, professora do curso de moda da Faculdade de Belas-Artes, em São Paulo, os brasileiros de maior poder aquisitivo ainda enxergam com preconceito esse modelo de compra, o que faz do investimento numa operação desse tipo no Brasil uma estratégia arriscada. “Os ricos no País têm receio de usar roupas de coleções passadas”, afirma. Vale lembrar que o Chic Outlet também vende coleções atuais. Contudo, já é possível notar no Brasil uma alteração nesse humor.
Em junho, a capital paulista ganhará um empreendimento do gênero, focado no setor de decoração: o CasaOutlet, um complexo multiuso às margens da rodovia Régis Bittencourt, com shopping de marcas de alto padrão, como a Espaço Til, Vallvé, Brentwood e byKamy – a preços até 70% menores –, um hotel, restaurante e torre de escritórios de 19 andares. Uma aposta alta, de R$ 80 milhões, apoiada em uma pesquisa que indicou que 95% dos entrevistados frequentariam uma loja desse tipo.
Para Arnaldo Kochen,
executivo que está no comando da implantação e comercialização do negócio, outros dois fatores deverão contribuir para o sucesso dos outlets no Brasil: o canal de escoamento de produtos, o que incentiva os fabricantes, e o delicado momento da economia global. “As pessoas lá fora estão valorizando mais o seu dinheiro”, afirma. “E aqui não será diferente.”
Fonte:
Istoé Dinheiro