Se pararmos, por instantes, a observar os sinais da nossa civilização, veremos que as mudanças de paradigma real estão sendo sinalizadas por toda parte. Mudanças climáticas, escassez de recursos materiais x aumento do consumo e da população (o dobro de 50 anos atrás), difusão da visão planetária-coletiva são alguns dos sintomas que nos convidam a repensar os modelos da sociedade.
Um momento parecido, em outro contexto histórico-filosófico, mas tão oportuno quanto, foi quando ocorreu a Revolução Industrial, que mudou, definitiva e gradativamente, as relações sociais, com o trabalho e o modo de produção, até então artesanal e caracterizado por atividades de ofícios, quase sempre de tradição familiar.
Aquele momento foi caracterizado pela intensificação do processo de urbanização, o qual aumentou a sofisticação da sociedade e acelerou a construção da cultura. O avanço tecnológico, a caracterização da economia como ciência e o surgimento de novas profissões foram alguns dos sinais e das mudanças que caracterizaram aquele ponto de inflexão social e produtiva, as quais foram necessárias para impulsionar a eficiência da produção então demandada e que causaram profundos impactos nos cenários econômicos e sociais desde então.
No caminho da história e até o século XIX os inventos tecnológicos contribuíram para a diminuição das demandas coletivas e para a melhoria na qualidade de vida da sociedade dominante na época. No século XX, no entanto, a tecnologia já supria as demandas de conforto da coletividade e a sociedade de consumo passa a trabalhar para aumentar a demanda individual. Nesse contexto se estabelece o designer, que passou a inventar as coisas para desejos até então inimagináveis. Daí se sustenta a imagem do profissional de design, ainda hoje, como supérfluo, a serviço da elite e como um dos grandes responsáveis pelo aumento dos resíduos do planeta, em função dos produtos descartáveis que projetam.
Mas o mercado alerta, pela primeira vez na segunda metade do século XX, os limites do crescimento impostos por um planeta finito. Desde a Rio 92 – no Brasil! – se consolida o conceito de desenvolvimento sustentável, o qual passa a pautar as agendas de planejamento produtivo de todo o mundo. Não foi à toa...
Neste país, reconhecido pela criatividade e inventividade de sua gente, os profissionais de design ainda se miram no exemplo do velho continente, o qual inventou o supérfluo DEPOIS de ter as necessidades coletivas e essenciais de sua população atendidas.
Vai aqui o convite para olhar a riqueza sob nossos pés e sobre o que é possível para a melhoria do bem-estar da nossa gente.
O mercado interno brasileiro, assim como a nossa natureza, é megadiverso. Nossa sociedade é formada por pessoas de diferentes classes sociais, níveis de formação profissional, estágios de desenvolvimento, cores, tamanhos e acessos. Há clima frio e seco e úmido e quente; indústrias da mais alta tecnologia e qualificação técnica e comunidades extrativistas com produção artesanal; do mais pobre ao mais rico, do mais simples ao mais sofisticado. E somos referência em qualidade de vida! Muitas sociedades se tornaram “cinzas” e desaprenderam como se divertir.
Vivemos em um mundo com mais pessoas e recursos limitados, não há mais espaço para o supérfluo de alguns em detrimento do que é essencial para todos. Estamos em um tempo de ampliar acessos, incluir pessoas e diminuir as coisas, promovendo relações simbióticas para o uso dos recursos e dos espaços.
Se o momento é agora, o lugar é aqui. As oportunidades que se descortinam em um cenário de sustentabilidade futura, sobre o qual todo o mundo se debruça em busca de soluções atualmente, abrem espaço para um novo cliente e uma nova atuação do designer, sendo que a nossa sociedade é um laboratório que sintetiza diversas realidades semelhantes. A solução para um nicho da nossa sociedade certamente caberá para outro país com as mesmas características.
Observar as oportunidades que a nossa população, nosso meio ambiente, nossa forma de viver etc. oferecem à criatividade é um novo horizonte. É preciso rever o atual paradigma e tornar o design benefício de todos e não mais privilegio de alguns.
Fonte: Design Brasil
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