Falar ao telefone, escrever um e-mail, baixar músicas na internet, conversar com cinco pessoas, paralelamente, pelo MSN, acompanhar as notícias nos sites de jornais e revistas e, ainda, escrever um relatório detalhado sobre um projeto. Tudo isso ao mesmo tempo, tudo isso em alguns minutos.
Essa é a realidade das pessoas que pertencem à Geração Y, ou seja, aquelas que nasceram no final da década de 70 até o início dos anos 90. E se você fizer parte dessa geração, com certeza não estará apenas lendo só esta matéria. Até porque dá para fazer mil outras coisas simultaneamente, não é mesmo?
Os jovens da Geração Y têm entre 16 e 29 anos e, como estão “ligados” à internet desde que nasceram, possuem habilidades tecnológicas que muitas vezes superam as das gerações anteriores.
As gerações que precederam a Y foram as dos Baby Boomers, nascidos entre 1946 e 1964, e a Geração X, das pessoas que nasceram entre 1965 e 1976. Uma geração é marcada pela passagem cronológica de 25 anos. “Esse é o tempo de crescer, casar e reproduzir”, explica o neuropsicólogo e professor Eugenio Pereira.
Mas ele acrescenta que uma geração pode se formar, também, por conta de acontecimentos históricos, como guerras, revoluções e catástrofes. Esses episódios são os que muitas vezes ajudam a definir as características, hábitos e até personalidades de uma geração.
A Geração Baby Boomer nasceu após a Segunda Guerra Mundial e por isso tinha como ideal reconstruir o mundo, o que significava trabalhar, trabalhar e trabalhar. Já a geração X veio quando o Movimento Hippie e a Revolução Sexual estavam com toda força, por isso as pessoas dessa geração pregavam a paz e a liberdade. Já os membros da Geração Y são imediatistas, generalistas e rápidos, características ligadas à Revolução Tecnológica.
Entretanto, os hábitos podem passar de uma geração para outra. Afinal, são tradições que passam de pais para filhos. Por isso, é muito comum ver que alguns membros da Geração X mantêm a idéia de trabalhar bastante, pois esse era o principal valor dos pais, os Baby Boomers. “Essa geração herdou dos pais a importância de preservar o emprego”, explica Patrícia Epperlein, sócia-diretora da Mariaca Consultoria. Eles, os Baby Boomers, encaravam o trabalho como a coisa mais importante da vida. “O emprego era a identidade da pessoa”, completa Patrícia Epperlein.
Só que a Geração X teve uma novidade: as mulheres começaram e trabalhar e conseqüentemente não tinham mais tempo para cuidar só da casa e dos filhos. Com isso, a Geração Y foi criada por babás ou passou muito tempo em escolinhas. “Foi uma geração criada pela televisão, com pais ausentes ou omissos”, defende Pereira. Daí a necessidade que os membros da Geração Y têm de ter tempo para os filhos e trabalhar menos.
A Geração Y no trabalho
O trabalho para a Geração Y é um paradoxo. Ao mesmo tempo que há workholics, worklovers e profissionais estressados, há aqueles que priorizam a qualidade de vida e horas de lazer. Na mesma medida em que há pessoas com 25 anos bem-sucedidas profissionalmente, há jovens, da mesma idade, que ainda nem amadureceram e vivem sob a proteção dos pais.
Mas dentre tantas contradições há um ponto em comum: o egoísmo. A Geração Y prioriza seus interesses e dificilmente abre mão de satisfazer um desejo pessoal em detrimento de algum emprego. “O trabalho não é uma obrigação. Fazer o que gosta e fazer diferente é que é a prioridade”, explica Mário Fagundes, diretor de carreiras da Catho.
Gerenciar melhor o tempo, priorizar a excelência e a consciência ambiental são outros pontos relevantes para a Geração Y, quando o tema é trabalho. “A geração Y tem uma consciência de qualidade mais aguçada”, completa Fagundes.
Além disso, é uma geração que tem boas relações interpessoais no ambiente de trabalho e entende que duas cabeças pensam melhor que uma. “É uma geração que prioriza o trabalho em equipe”, defende Irene Ferreira Azevedo, professora da Brazilian Business School, BBS.
Empresas versus Geração Y
Criatividade, democracia, estrutura horizontal e flexibilidade. Esses são os conceitos que devem ter uma empresa para atrair um profissional da Geração Y. “Essa geração prefere organizações em que é possível preservar a qualidade de vida”, completa diretor acadêmico de pós-graduação da ESPM, Richard Lucht . Por isso, companhias que têm estruturas patriarcais e são extremamente rígidas com horários, por exemplo, passam longe da lista de desejos desses profissionais. “Essa geração também vê com bons olhos empresas que têm consciência ambiental”, completa Irene Ferreira Azevedo.
Outro ponto relevante para os jovens é que eles sejam estimulados o tempo todo pelas companhias em que trabalham. “Eles gostam da exigência do dia-a-dia e ficam insatisfeitos com a rotina”, completa Patrícia Epperlein. Portanto, projetos que estimulam a inteligência, a criatividade e, acima de tudo, são desafiadores e produzem resultados perceptíveis inspiram os jovens profissionais.
Diferentemente da geração dos avós, os Baby Boomers e até dos pais, os X, a Geração Y não tem nenhum compromisso com a empresa. Trabalhar a vida inteira em uma única companhia ou passar mais de uma década numa empresa são coisas irreais para os jovens da Geração Y. A fidelidade deles é com a carreira, nunca com uma empresa. Portanto, quando percebem que a companhia em que estão trabalhando não oferece oportunidade de crescimento ou quando o salário não é compatível com o que eles querem, os jovens da geração Y não pensam duas vezes em mudar de emprego. “Eles não têm muita paciência para esperar uma promoção”, exemplifica Irene Ferreira Azevedo.
Empresas novas, ou seja, que têm a mesma idade dos jovens da Geração Y, também são alguns dos possíveis lugares em que os jovens podem ir procurar emprego. “São empresas modernas que nasceram junto com essa geração e têm os mesmos valores”, completa Pereira. Já as companhias mais tradicionais que ainda mantêm estruturas muito hierarquizadas estão mudando, aos poucos, seus valores para atrair os profissionais da Geração Y.
Gerações: conflitos e diferenças
Como citado no início desta matéria, cada geração é marcada por um acontecimento e isso determina a forma como as pessoas nascidas naquela época vão ser. Além disso, as gerações posteriores reagem às posturas das gerações antecessoras, tanto positiva quanto negativamente.
Os Baby Boomers encarnaram a idéia de reconstrução do mundo e por causa dessa postura os profissionais dessa época trabalharam num única companhia. Além disso, são eles os responsáveis por muitas coisas que temos hoje. “Foram os Baby Boomers que construíram as grandes empresas e são eles que estão no comando dos altos cargos das companhias”, esclarece Fagundes.
Os filhos dessa geração, a geração X, tinham como norte tanto a herança de trabalhar tanto quanto os pais, como os ideais da época. Por isso, eles também têm o conceito de ficar bastante tempo nas empresas, mas não durante toda a vida, como os Baby Boomers. Para eles, trabalho é o que pagava as contas. Outros fatores que marcaram a época da Geração X foram as fusões entre as empresas e a instabilidade econômica do País, o que gerava o medo do desemprego. “Foi uma geração que lidou muito com a instabilidade e que começou a perceber que as grandes empresas não eram um lugar seguro para fazer carreira”, completa Patrícia Epperlein.
A Geração Y é o fruto disso tudo, sobretudo o fruto da culpa dos pais da Geração X, “que não tinham tempo para criar os filhos e os enchiam de presentes”, defende Irene Ferreira Azevedo. Talvez por esse motivo, os profissionais da Geração Y priorizem tanto a qualidade de vida. “Eles sabem que precisam ter tempo para os filhos e se cobram por isso”, completa Irene Ferreira Azevedo.
Mas quando essas gerações entram em conflito? Sempre, mas focando no âmbito profissional, os conflitos gerados nas empresas surgem por causa da incompatibilidade de gerações. Mas quando as companhias percebem que cada conflito pode causar um atrito desnecessário, é hora de tomar uma providência. “Cabe às empresas perceber as diferenças e treinar os funcionários para que haja harmonia nas organizações”, acrescenta Patrícia Epperlein.
Geração generalista
“Um oceano de conhecimento com um pires de profundidade”. A frase de Lucht, define bem o conceito de generalização em que a geração Y está inserida.
Acostumada a lidar com muita informação e atropelada pela pressa constante inerente à sua geração, os jovens de hoje são um espécie de especialistas de generalidades, pois sabem de tudo um pouco, mas só um pouco. “São leitores de manchetes, não têm o hábito de se aprofundar em nada”, completa Lucht. “Sempre entende de algo, mas de uma maneira muito superficial”, acrescenta Fagundes.
A causa desse comportamento está atribuída ao fato de a Geração Y não ter muita paciência para lidar com coisas que demandam muito tempo. E como estudar e especializar-se é algo demorado, acabam ficando para segundo plano.
As faculdades, sobretudo as privadas, também se adequaram a essa “pressa constante”. Algumas delas têm em sua grade de horário, disciplinas que são mais práticas e estimulam muito mais as habilidades técnicas do que as teóricas. “As instituições de ensino seguem a tendência de mercado e incorporam essa “pressa”, completa Lucht. Entretanto, ele ressalta que é de total interesse do aluno e do profissional escolher o que priorizar. “Vai do perfil de cada um escolher por uma formação mais analítica e reflexiva, ou não.” E acrescenta que o interesse da Geração Y em especializar-se cresceu muito nos últimos anos.
As diferenças das gerações | |||
Geração | Baby Boomers | X | Y |
Ano nascimento | 1946 até 1964 | De 1965 até 1978 | 1979 até 1992 |
Acontecimentos que marcaram a geração | Final da 2ª Guerra mundial | Movimento Hippie, revolução sexual | Revolução tecnológica |
Principais ideais | Reconstruir o mundo | Lutar pela paz, liberdade, anarquismo | Globalização, multicultura e diversidade |
O trabalho é... | A principal razão da vida | O que paga as contas | A satisfação do desejo de consumismo |
Média de tempo nas empresas | 30 a 40 anos | 10 a15 anos | 5 anos |
A Geração Y na empresa |
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A geração Y |
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Fonte: Vencer
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