Um porta-objeto que se transforma em prateleira, banquinho e uma horta. Mesas que ajudam crianças da educação infantil a estudar a pirâmide alimentar. Cadeiras com pontas arredondadas para facilitar a interação entre alunos. Essas são algumas das inovações criadas por pesquisadores e universitários da área do design, pensadas especialmente para beneficiar o aprendizado de estudantes em sala de aula e auxiliar os professores nos seus trabalhos.
Para efetivamente inovar no cotidiano das escolas, todas as novas ideias nasceram de uma pesquisa de campo. Em visita à Creche Boa Esperança, na vila Orfanatrófio, em Porto Alegre, estudantes do curso de Design do UniRitter ouviram demandas dos pedagogos, analisaram a estrutura do prédio e projetaram novos objetos para as crianças que estudavam em um ambiente de poucos recursos. Coordenador da disciplina e diretor do Núcleo de Design e Inovação Social do centro universitário, Daniel Quintana Sperb explica que os alunos procuraram criar projetos que beneficiassem as crianças no que diz respeito à aprendizagem afetiva, cognitiva e motora.
O H Concept, por exemplo, é uma espécie de placa de madeira que pode ser encaixada em outras unidades para formar banquinhos, mesinhas, prateleiras e até mesmo uma horta. "É um grande case de trabalho interdisciplinar, porque além de ser vários produtos ao mesmo tempo, trabalha a educação alimentar e a criatividade ao ensinar crianças a cuidarem de uma horta, aproveitando garrafas pet, e a montar o produto em diferentes formas", explica o docente. Seguindo a mesma linha, o Projeto Para busca trabalhar questões nutricionais ao propor uma mesa com chapas cujos adesivos coloridos ensinam conceitos sobre a pirâmide alimentar. Outra inovação é o Ello, composto por várias placas que podem ser unidas para formar prateleiras ou até mesmo um grande banco disposto na sala de aula.
Segundo Sperb, todos os projetos são voltados à educação infantil e têm baixo custo, já que a matéria-prima vem do estoque excedente de fábricas. Ele afirma que, até o momento, há duas empresas interessadas em participar do projeto para disponibilizar os produtos no mercado. Enquanto isso, outra turma está em fase de apresentação de uma nova leva de objetos - dentre eles, um móvel grande de dois níveis no qual os pequenos podem guardar livros na divisão superior ou brincar, seja em cima ou mesmo na parte de baixo.
Pesquisa da UEMG aponta defeitos e soluções no mobiliário escolar brasileiro
As escolas brasileiras não se preocupam com o mobiliário escolar e com a ergonomia de seus móveis, aponta uma pesquisa feita em Belo Horizonte pela Universidade do Estado de Minas Gerais com o objetivo de trazer soluções de design para as salas de aula. Coordenada pelo professor da Escola de Design, Rogério Tobias, os estudos demonstraram que mesas e cadeiras promovem um constrangimento postural - isto é, o estudante sente várias dores pelo corpo devido aos defeitos ergonômicos do móvel e não por causa de uma eventual má postura. "As cadeiras prendem a circulação das pernas e causam formigamento. O aluno, então, precisa levantar, ir beber água ou no banheiro para se recuperar", explica o docente.
Como saída, foi criada uma cadeira cujo assento de madeira é bipartido, deixando um espaço para evitar dores após muito tempo na mesma posição, além de evitar escorregamentos.
Outro problema constatado é que frequentemente uma mesma sala de aula dispõe de mesas e cadeiras do mesmo tamanho para crianças e adultos do EJA, apesar da diferença no comprimento de braços e pernas. A solução foi criar uma carteira cuja altura fosse ideal para qualquer idade. Aproveitando uma demanda dos alunos, o móvel recebeu um buraco reservado para um copo plástico a fim de evitar derramamentos e que, quando vazio, serve de lixo. Para completar, as mesas são leves e em forma de trapézio, em vez de retangulares, para que vários alunos possam se juntar em círculo nas dinâmicas de grupo, além de facilitar o espaço de movimentação do professor durante a aula. A pesquisa de Tobias terá continuação: desta vez, focada no mobiliário para professores.
Todos os móveis foram feitos em parceria com o Centro de Estudos em Design de Madeira (CEMA) da UEMG. O coordenador do centro, José Nunes Filho, mantinha uma pesquisa cujo foco era implementar técnicas de design nas marcenarias e pequenas empresas do interior de Minas Gerais. Além de usar madeira da região e serem de fácil fabricação, os móveis foram planejados para serem leves, na expectativa de facilitar a mudança de lugares para dinâmicas entre a turma.
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