Uma característica importante da embalagem é sua capacidade de ser reciclada, voltando ao processo produtivo.
A reciclagem de embalagem é um processo industrial baseado na logística reversa, que consiste em trazer de volta para as fábricas as unidades dispersas no varejo e nos sistemas de distribuição de mercadorias. Esta operação de resgate é complexa e cheia de detalhes, pois cada material tem
características técnicos que exigem para a sua reciclagem procedimentos diferenciados.
O vidro precisa ser derretido novamente, assim como o aço em fornos de alta temperatura, que exigem uma grande quantidade de energia. Já o papel é dissolvido em processos químicos que soltam suas fibras, permitindo que elas sejam reagrupadas novamente enquanto que os plásticos, por terem estruturas moleculares diferentes entre si, passam por diversos processos, podendo ser transformados em resinas, fibras texteis e outros materiais pós processo.
Esta atividade é economicamente viável e está em pleno curso no país, resultado da ação combinada de milhares de empresas e pessoas que se dedicam à reciclagem de embalagem, fazendo com que a maior parte delas retornem às fábricas depois de utilizadas. O Brasil lidera mundialmente a reciclagem de embalagens de agro-tóxicos e de latas de alumínio e já é o segundo maior reciclador de embalagens PET. Mais da metade dos papéis e 78% das caixas de
papelão são recicladas, ficando as embalagens de vidro e aço em torno dos 50%.
Falta ainda uma maior reciclagem das embalagens de plástico flexível e dos frascos plásticos que não são de PET, pois, devido à diversidade das resinas que os originam, eles não podem ser reciclados juntos e sua separação se torna mais difícil, pois são visualmente semelhantes.
O núcleo de Estudos da Embalagem da ESPM vem acompanhando estas questões e estudando formas de contribuir para a evolução da reciclagem de embalagem no Brasil. Seus estudos iniciais indicam que a reciclagem, da forma que vem sendo feita, baseada na ação da indústrias e das empresas recicladoras apoiadas no trabalho dos catadores e suas cooperativas, está chegando a um limite técnico, havendo a necessidade do poder público entrar com mais força
no processo para que índices mais elevados de reciclagem sejam alcançados.
No primeiro Forum de Reciclagem de Embalagem da Cidade de São Paulo, realizado pela prefeitura da cidade, ficou claro que ainda é muito baixa a porcentagem de resíduos urbanos que passa por processo de triagem, com objetivo de reciclagem de embalagem na cidade. Mesmo dobrando este índice atual em 2009, como se propõe fazer a prefeitura de São Paulo, ainda não
chegaremos aos 10% de triagem do lixo recolhido diariamente.
É evidente que chegou a hora da sociedade brasileira dar um passo à frente nesta questão, passando a exigir das autoridades, sobretudo dos novos dirigentes municipais que tomarão posse no ano que vem, uma atitude mais efetiva no que diz respeito à coleta seletiva e aos galpões de triagem, evitando que 100% do lixo urbano seja destinado aos aterros sanitários, como ocorre hoje na maioria das nossas cidades.
A população precisa se conscientizar que a reciclagem de embalagem traz muitos benefícios para ela própria, para a economia, as cidades e para o meio ambiente, e precisa agir, exigindo que o poder público invista em programas municipais de reciclagem, pois o modelo atual - em que a atividade está em sua grande maioria a cargo da iniciativa privada - não consegue alcançar os índices mais elevados que precisamos, ainda que tenha alcançado sucessos importantes.
O Brasil tem todas as condições de se tornar líder mundial em reciclagem de embalagem se a sociedade como um todo participar desta atividade e não apenas uma parte dela, como vem acontecendo hoje.
Exigir que as prefeituras tenham um programa de reciclagem de embalagem e desenvolvam algum tipo de atividade neste sentido é a tarefa que se apresenta aos cidadãos que se preocupam com as questões sócio-ambientais. A reciclagem de embalagem é possível e todas as cidades têm condições de desenvolver este tipo de atividade.
Chegou a hora de colocar para valer esta questão na agenda municipal. Hoje, mais da metade das embalagens já está voltando para as fábricas. Mas este número pode ser bem maior se as prefeituras participarem mais efetivamente.
Fábio Mestriner é designer, professor coordenador do Núcleo de Estudos da Embalagem da ESPM, professor do Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Embalagem da Escola de engenharia Mauá, cordenador do Comitê de Estudos Estratégicos da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE), conselheiro do Comitê de Inovação e Design do WTC World Trade Center e autor dos livros "Design de Embalagem - Curso Avançado" e “Gestão Estratégica de Embalagem” (Pearson Prentice Hall ). Foi presidente da Abre e representante do Brasil na WPO World Packaging Organization.
Fonte: www.designbrasil.org.br
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