O Morro dos Prazeres, comunidade no bairro carioca de Santa Tereza, com mais de 3 mil habitantes, está sendo palco de um campeonato de futebol diferenciado desde ontem, dia 1º de outubro. A competição é parte da estratégia da campanha Homens pelo fim da violência contra a mulher, coordenada pela ong Promundo, que chega a essa comunidade carioca fortalecida pelas bem sucedidas experiências anteriores e o patrocínio da Avon, empresa que tem promovido globalmente ações pelo fim da violência doméstica. A parceria criou condições não só para a realização do campeonato, mas para a confecção de uma pesquisa inédita na comunidade que. além de respaldar toda a ação da campanha, oferece informações importantes sobre o comportamento da população local em relação ao tema.
A pesquisa Violência Contra Mulher foi realizada com 152 homens e 101 mulheres que vivem no Morro dos Prazeres. A divulgação dos resultados marca o lançamento oficial da ação da campanha no Morro de Santa Tereza, que se estende até o final do ano. A ação conta com três eixos de atuação: o campeonato de futsal “Sem violência, só prazeres”, as oficinas semanais de sensibilização e as ações de comunicação na comunidade. Ao final da ação, será realizado novo diagnóstico para avaliar o impacto da iniciativa na comunidade.
O projeto foi selecionado pela Avon para contar com o patrocínio da empresa no ano da celebração de seus 125 anos, após ser indicado por uma das revendedoras autônomas dos produtos da companhia. No Brasil, somente o Instituto Avon já destinou, desde 2008, mais de R$ 3,5 milhões de reais em projetos voltados para a causa da não violência doméstica. Por meio do Instituto Avon, que coordena a campanha Fale sem medo – não à violência doméstica no Brasil, a empresa realizou uma ampla pesquisa sobre o tema divulgada em junho, com dados de todo o país. Ela está disponível no site do Instituto Avon (www.institutoavon.com.br).
Os números da pesquisa no Morro dos Prazeres
O estudo realizado na comunidade indica que as violências psicológica, física e sexual contra as mulheres ainda são duras realidades a serem enfrentadas, apesar de a maioria da população conhecer a Lei Maria da Penha — 90% dos homens e 85% das mulheres.
A reprodução do ciclo da violência é uma constante nessa discussão: 42,6% dos homens entrevistados já testemunharam suas mães sofrendo violência física e psicológica pelo parceiro. Entre os mesmos homens, 60% assumiram ter cometido algum tipo de violência contra suas parceiras atuais.
Outros números levantados mostram que as condições da violência contra a mulher são alarmantes: 30,8% das entrevistadas disseram já ter sofrido algum tipo de violência do parceiro atual; 36,1% dos homens cometeram alguma violência contra uma de suas parceiras ao longo de suas vidas e 88,5% deles afirmaram que elas não os denunciaram por causa da agressão sofrida.
Além de serem atores diretamente envolvidos nas violências, muitos dos entrevistados já testemunharam alguma violência contra a mulher: 65% dos homens e 47% das mulheres já presenciaram um parente, amigo ou conhecido usando violência contra uma mulher, o que ratifica a necessidade de intervenção sobre o tema na comunidade.
Além disso, 85% dos homens e 91% das mulheres nunca participaram ou ouviram falar de alguma campanha na comunidade sobre prevenção de Violência Contra Mulher.
“Homens pelo fim da violência contra a mulher”
Inspirada na Campanha Brasileira do Laço Branco, a campanha Homens pelo fim da violência contra a mulher tem o objetivo de sensibilizar, envolver e mobilizar os homens no engajamento pelo fim da violência contra a mulher no Morro dos Prazeres. A idéia central é promover a reflexão sobre os padrões de gênero que produzem diferenças em relação ao poder de decisão entre mulheres e homens. Outro objetivo é lançar luz e discutir sobre os fatores que reproduzem violências e comportamentos, os quais acabam naturalizando o uso da força contra mulheres e crianças e afastando os pais da relação de cuidado e afeto com seus filhos.
Uma das três dimensões da campanha, as oficinas de sensibilização reúnem semanalmente cerca de 20 pessoas, a maioria homens, para a reflexão e questionamento de padrões de gênero no Morro dos Prazeres. Essas pessoas atuam como agentes disseminadores da campanha na comunidade. Os temas abordados nas oficinas são: gênero, tipos de violência (física, psicológica e sexual), sexualidade, saúde sexual e reprodutiva e envolvimento dos homens na educação e no cuidado de seus filhos/as.
A partir da participação deste grupo nas oficinas, foi possível criar o segundo eixo da campanha, as ações de comunicação, de forma totalmente participativa. O grupo diagnosticou espaços, selecionou materiais, identificou estratégias e oportunidades de comunicação para a divulgação eficiente do tema da campanha na comunidade.
As estratégias e peças de comunicação criadas envolvem: um jornal semanal, que terá a cobertura dos jogos, entrevistas com moradores e textos sobre equidade de gênero; também cartazes e panfletos sobre o tema da campanha; além de uma página no Facebook e, ainda, concursos de vídeo e funk sobre violência contra a mulher.
Campeonato de futsal “Sem violência, só prazeres”
O terceiro eixo da campanha, o campeonato, foi pensado como uma estratégia de mobilização comunitária para difundir a prevenção da violência contra mulher. O campeonato terá duração de dois meses e reunirá 10 times. As partidas acontecerão aos sábados, entre 13 e 18h, na quadra de futsal da comunidade do Morro dos Prazeres. A atividade prevê o envolvimento dos moradores durante os jogos e a integração das famílias em torno do tema da prevenção à violência contra mulher e da equidade de gênero. A abertura dos jogos do campeonato de futsal “Sem violência, só prazeres” aconteceu ontem, sábado, 1° de outubro.
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